“Quero a utopia, quero tudo e mais. Quero a felicidade dos olhos de um pai. Quero a alegria muita gente feliz. Quero que a justiça reine em meu país. Quero a liberdade, quero o vinho e o pão. Quero ser amizade, quero amor, prazer. Quero nossa cidade sempre ensolarada. Os meninos [e as meninas] e o povo no poder, eu quero ver”.
Com a citação desse trecho da canção Coração Civil, de Milton Nascimento, encerrou-se o webinário de lançamento da campanha “A Democracia que Queremos”, realizado no dia 19 de julho. O encontro reuniu representantes de diversas organizações que compõem ou são parceiras da Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma do Sistema Político.
A diversidade de movimentos deu o tom do webinário, que trouxe diferentes questões e visões sobre o sistema político brasileiro e seus impactos na sociedade. Mediado por Athayde Motta (Abong/Ibase), o lançamento da campanha também provocou reflexões sobre as utopias para a construção de um outro sistema, efetivamente democrático.
A partir de intervenções das convidadas e convidados, foram apresentadas diversas questões. Integrante do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), José Moroni iniciou as exposições fazendo uma contextualização da campanha. “A Plataforma sempre teve a estratégia de formular propostas e, por meio delas, discutir com a sociedade e incidir nos espaços de poder, levando o nosso entendimento de sistema político, que não é só a questão da representação, mas envolve democracia direta, a dimensão da participação institucionalizada, do sistema de justiça, do poder da comunicação e informação, da democracia e economia, da democratização da vida social”, explicou.
De acordo com Alex Hercog (Intervozes), a expectativa é que a campanha também alcance as ruas e dialogue com um conjunto maior da sociedade, valorizando o debate em torno da democracia, mas também questionando as restrições que o atual sistema impõe. “Há setores da sociedade que nunca experimentaram a democracia”, afirma.
Também do coletivo Intervozes, Viviane Tavares destacou o papel da desinformação no atual cenário político. Viviane integra o Grupo de Trabalho de Combate à Desinformação e ao Discurso de Ódio na Amazônia. Ela defendeu o direito à comunicação como fundamental para o exercício da democracia e as ameaças provocadas pela falta de transparência e de regulamentação das plataformas por onde circulam as chamadas “fake news”.
Karla Braga, da Cooperação da Juventude Amazônica pelo Desenvolvimento Sustentável (CoJovem), sinalizou que a região Norte é a que mais sofre com a exclusão digital no País e afirmou que, para se construir uma democracia, é preciso incluir cada vez mais os jovens. “Nós somos um grande percentual da população do Brasil e precisamos ter acesso à educação para continuar cocriando novas possibilidades e sonhando com um Brasil mais justo”, disse.
Representando o movimento “Meu Voto Será Feminista”, Juliana Romão pontuou a subrepresentatividade política e a necessidade de incidir para alterar a configuração dos espaços de poder. “A luta é para que a “pirâmide” seja invertida na ordem de prioridade social, para que a base da população venha primeiro e entre no orçamento, para que as mulheres sejam acionadas para pensar políticas públicas, orçamento, a gestão da cidade e das ruas do país”, destacou Juliana.
Membro do Coletivo Revolucionário de Libertação (Cordel), Hugo Matos ressaltou que a democracia atual não chegou à grande parte da população brasileira, por isso é preciso mudar a institucionalidade e ampliar as liberdades individuais e coletivas neste modelo de Estado. “Mas a democracia que nós queremos vai muito além disso. Nós podemos sonhar outros mundos e construir outras formas de vida”, completou.
Para Waldenor Reis, coordenador do Grupo de Trabalhos em Prevenção Posithivo (GTP), a democracia que se busca precisa chegar às populações de unidades prisionais, às comunidades de trabalhadores/as sexuais, a todas as populações marginalizadas “O exercício da democracia precisa chegar a essas pessoas”, ressaltou.
Luciana Garcia, do Instituto Prios de Políticas Públicas e Direitos Humanos, também destacou a necessidade de um sistema mais participativo e que permita reconstruir o país, “mas também olhando de forma inclusiva para as realidades dos estados, especialmente para aqueles em que o cenário vai continuar o mesmo ou vai se agravar após as eleições”.
A necessidade de pensar em um novo sistema, criativo e ainda não experimentado também foi uma provocação trazida por Henrique Frota (Abong/Instituto Pólis). Segundo ele, as apostas não podem ser as mesmas de 30 anos atrás. “Isso nós já sabemos aonde deu, porque foram apostas gestadas em um sistema político estruturado pelas desigualdades e dominado pela branquitude e por grupos políticos alicerçados em violência estrutural na sociedade”, afirmou.
De acordo com Leila Lopes (Rede Sapatá), o atual sistema “não foi feito para os nossos povos, para os povos originários, para os negros ou para toda a nossa diversidade LGBTQIA+”. Para ela, é preciso pensar em uma reforma política profunda, para que o Estado brasileiro realmente acolha esses povos. “Que a gente tenha o direito de ter direito de viver dignamente nesse país”, completou.
Para a representante do Cenarab (Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afro Brasileiro), Makota Celinha, o Brasil nunca experimentou uma democracia, que só existe se incluir todas as pessoas, indistintamente. Ela acredita que a democracia tem que ser plena na harmonia, na paz entre os diferentes, entre as diferentes formas de rezar ou não. “Vamos continuar sonhando com essas utopias, porque é possível um novo mundo”, disse.
Encerrando o webinário,Franklin Félix (Abong) lembrou que os tempos atuais são muito difíceis para as pessoas sonhadoras, mas acrescentou que encontros como esse servem para renovar as esperanças e refletir que democracia queremos.
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Próximos encontros
A campanha “A Democracia que Queremos” ainda promoverá outros dois encontros virtuais, além da produção de materiais digitais e ações públicas que fomentem o debate sobre os temas discutidos pela Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma do Sistema Político.