O real é o impossível

Chegamos ao final de um ano inominável. De mudanças de rotas, de muitas perdas – incluindo a de milhares de vidas –, de retrocessos e de ansiedade com o que virá. Muita gente tem dito que, com tudo o que aconteceu nesse 2020, as pessoas fizeram o que deu pra fazer. Queremos lembrar aqui o que deu pra gente, da Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma do Sistema Político, fazer ao logo deste ano, no sentido do fortalecimento de ações que visam a democratização do poder – consolidando teoria e prática antirracista, antifascista, feminista e antihomolesbotransfóbica –, comprometidas com os trabalhadores do nosso país, com o meio ambiente e os povos do campo, das florestas e das águas.

Entre janeiro e março, lançamos uma série de artigos que culminaram na publicação “A Democracia Necessária e Desejada: Dilemas e Perspectivas” (publicada em julho), em parceria com a Rede de pesquisadores e pesquisadoras Democracia e Participação, que sistematizou debates que têm circulado na Plataforma e na universidade em torno dos temas da democracia, participação institucional, Estado, movimentos sociais, racismo, movimentos LGBTQI+, voto, partido e poder comunitário.

Antes da pandemia da Covid-19, acompanhamos e participamos de discussões sobre violência política contra a mulher, reforma administrativa, mineração em terras indígenas e combate à desinformação (chamado de PL de Fake News), entre outras propostas debatidas no Congresso Nacional.

No final de março, a Plataforma lançou um documento com onze medidas para enfrentar a pandemia, que já era uma realidade em nossas vidas, com proteção, igualdade, justiça social e econômica. Também defendemos e divulgamos a proposta de Renda Básica Emergencial.  

Em maio, diante do comportamento genocida do governo e das dúvidas sobre a lisura das eleições de 2018, lançamos a campanha #NemBolsonaroNemMourão: queremos nova eleição, para pressionar o TSE pelo julgamento de ações que tramitam no Tribunal pela cassação da chapa Bolsonaro/Mourão. Também em maio, lançamos uma série de materiais com informações relevantes sobre cuidados relacionados à transmissão do novo coronavírus.

Nossa rotina de webinários se intensificou com a vida em isolamento social: fizemos debates online sobre temas fundamentais como antirracismo e antifascismo, economia e democracia, criminalização da LGBTfobia, influência das empresas no sistema político, desinformação e eleições, laicidade e política, visibilidade lésbica e, claro, a conjuntura política nacional. 

Em junho, exigimos em reunião com o presidente da Câmara mais participação da sociedade civil e garantia de transparência nos processos legislativos no período da pandemia.

Em julho e agosto, estivemos no Congresso Nacional ao lado de inúmeras organizações para protocolar pedidos de impeachment de Bolsonaro e salvaguardar a população brasileira de sua ação genocida.

Entre setembro e novembro, no contexto das eleições municipais, discutimos a importância da garantia de cotas raciais para candidaturas negras e nos desafiamos a provocar a sociedade brasileira a refletir sobre a sub-representação nos espaços de poder, estimulando o voto em mulheres, negros, indígenas, quilombolas, povos tradicionais de matriz africana, jovens e LGBTIQ+ nos cargos públicos eletivos. A campanha #QueroMeVerNoPoder, marcada por uma construção diversa e plural, mostrou a importância da mudança do modelo de representação vigente com vistas ao exercício da democracia plena no Brasil.

Internamente, este foi um ano de aprofundamento de debates sobre o que queremos de nossa Plataforma. Os Grupos de Trabalho sobre onze temas, formados no ano passado, avançaram com debates sobre o que queremos na intersecção entre as lutas por direitos e as transformações do sistema político, também à luz dos encontros autogestionados que aconteceram em todo o país no ano passado. Nossa comunicação também foi aperfeiçoada: temos um novo site no ar desde dezembro passado, assim como novas contas no Instagram e no Twitter e um grupo de WhatsApp.

Também estivemos ao lado de organizações e movimentos parceiros em diversos momentos do ano, por meio de adesões a posicionamentos, participações em lives, reuniões….  

Queremos, assim, agradecer a todo mundo que caminhou conosco neste 2020. Nossa profunda esperança é de que, em 2021, as lições trazidas pelas experiências do ano que finda nos servirão de ponto de partida para resistirmos, existirmos e avançarmos. Preservando a riqueza da unidade na pluralidade, temos a certeza de que daremos passos fundamentais na construção da democracia brasileira. Na resistência cotidiana, avançaremos na formulação de uma sociedade radicalmente diferente!

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