Campanha defende representatividade nas eleições municipais

As eleições municipais no Brasil se aproximam e, a cada dia, emergem informações sobre a persistência, entre as candidaturas para os postos de vereança e para as prefeituras, da sub-representação política de determinados setores: pessoas que têm menos chances de ser eleitas pelo racismo, pelo sexismo, pela discriminação religiosa e pela discrepância na distribuição de recursos para campanhas.

Para sensibilizar a sociedade brasileira sobre a sub-representação de mulheres, negros, indígenas, quilombolas, povos tradicionais de matriz africana, jovens e LGBTIQ+ nos cargos públicos eletivos durante as Eleições 2020, visando que a política institucional seja mais representativa dos diferentes grupos sociais do país, a Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma do Sistema Político lança nesta sexta-feira (16) a campanha #QueroMeVerNoPoder

A ideia é promover, ao longo do processo eleitoral que termina em 29 de novembro, ações de comunicação – voltadas a partidos políticos, movimentos sociais, mídia e sociedade – sobre a importância da mudança do modelo de representação vigente com vistas ao exercício da democracia plena no Brasil.

Embora a participação de segmentos sub-representados da sociedade brasileira tenha aumentado em termos absolutos no pleito de 2020, nas maiores cidades do país a disputa pelas prefeituras será dominada por homens brancos. De acordo com a Justiça Eleitoral, 8 em cada 10 candidatos a prefeito em cidades com mais de 200 mil eleitores são homens, e 70% são brancos.

Um estudo feito pelo Inesc (Instituto de Estudos Socioeconômicos) aponta que as eleições de 2020 contarão com 88.555 mulheres negras, mas destas, apenas 2,7% disputarão os executivos municipais. Das 706 mulheres indígenas que se candidataram, apenas 111 pleiteiam cargos de prefeita e vice-prefeita.

A campanha pretende, portanto, ampliar a discussão sobre a ausência de representatividade nos espaços de poder institucionais eletivos e suas consequências para os grupos sub-representados. De forma transversal, vai abordar assuntos ligados à violência política, desinformação (fake news) e segurança na internet – cujas principais vítimas são os grupos sub-representados na política.

Propostas

Além de apontar os problemas relacionados à sub-representação na política institucional e sensibilizar eleitores para que elejam candidaturas que representem esses segmentos, a Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma do Sistema Político quer também apresentar suas propostas para a democratização efetiva do poder institucional.

No âmbito da representação, a rede defende a realização do voto em listas pré-ordenadas, organizadas de forma democrática pelos partidos políticos, garantindo a alternância de sexo e a participação de setores sub-representados nas legendas. Além disso, reforça que o financiamento das campanhas eleitorais deve ter critérios de partilha no interior dos partidos.

“A garantia de reserva de verbas para candidaturas negras foi uma conquista bastante importante no sentido de buscar mais equidade na disputa eleitoral, mas sabemos que haverá muita resistência dentro dos partidos em fazer a definição ser efetivada – como aconteceu com a cota para mulheres. Além disso, é preciso olhar para outros segmentos que também sofrem com a falta de democracia interna nos partidos, como indígenas, LGBTQIs, jovens e povos de terreiro”, pontua o documento da Plataforma lançado nesta semana.  

Em relação aos mecanismos de garantia da democracia participativa, as organizações da Plataforma defendem o fortalecimento dos espaços de participação para o controle das políticas e de recursos públicos – como conselhos e conferências –, garantindo mecanismos, inclusive financeiros, para o efetivo compartilhamento do poder de decisão. Quanto às formas de exercício de soberania popular expressas na Constituição Federal (plebiscito, referendo e iniciativa popular), a Plataforma sugere, por exemplo, que propostas de iniciativa popular sejam aceitas com o mesmo número de assinaturas exigido para se criar um partido político (o equivalente a 0,5% dos votos válidos para deputado federal na eleição anterior) – e não com 1% do eleitorado, como é hoje, e a coleta de assinaturas deve ser permitida de forma digital ou eletrônica. Além disso, defende que plebiscitos e referendos devem ocorrer sobre questões-chave, como acordos comerciais internacionais, grandes projetos de infraestrutura e outros elementos da política econômica.

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