Coletivo pede que Justiça investigue responsabilidade da Globo em agressão no BBB

A articulação Rede Mulher e Mídia protocolou, na tarde desta terça-feira (11), uma representação no Ministério Público Federal do Rio de Janeiro (MPF-RJ) contra a Rede Globo de Televisão. O coletivo pede que o órgão investigue a responsabilidade da emissora no caso de agressão de Marcos Harter contra Emilly Araújo, ambos participantes desta edição do programa Big Brother Brasil (BBB).

A Rede Mulher e Mídia reúne dezenas de organizações da sociedade civil, movimentos sociais e centenas de ativistas de todo o país.

Na segunda-feira (10), Marcos foi expulso do programa após uma briga do casal em que Marcos foi verbalmente agressivo com Emilly e a encurralou em um canto da casa, impedindo que ela se movesse. Antes da punição ao médico, a delegada titular da Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (DEAM) de Jacarepaguá (RJ), Viviane da Costa, esteve nos estúdios da Globo para pedir as imagens das discussões entre os participantes. A delegacia abriu um inquérito contra Marcos por lesão corporal.

Para as entidades que compõem a rede, no entanto, a punição do candidato não é suficiente. A jornalista Bia Barbosa, do coletivo Intervozes, que integra a articulação da rede, alega que o programa prevê punição apenas em casos de violência física, enquanto a legislação brasileira, com a Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/06), amplia as formas de agressão contra a mulher, considerando suas dimensões física, psicológica ou patrimonial.

Segundo Barbosa, a emissora não tomou nenhuma iniciativa para resolver um caso que já se alongava por semanas. “Quem estava acompanhando o programa viu uma escalada significativa das agressões psicológicas que a participante vinha sofrendo”, disse. “Apesar de a Globo dizer que alertou o participante em algum momento porque o comportamento dele estava muito agressivo, a emissora permitiu, na verdade, que essas violências continuassem acontecendo por semanas para trazer mais audiência”, completou a ativista.

Por volta das 17h, o Brasil de Fato entrou em contato com a assessoria de imprensa da Rede Globo de Televisão por e-mail e telefone para questionar se as regras do programa citam punição para machismo, homofobia e/ou outros casos de discriminação e se a emissora havia alertado o participante sobre seu comportamento antes da intervenção das autoridades policiais. Até a publicação desta reportagem, no entanto, a emissora não havia respondido aos questionamentos.

Antecedentes

Para a psicóloga e coordenadora do Observatório da Mulher, Rachel Moreno, o episódio “simboliza claramente” uma violência psicológica contra a participante Emilly. Moreno pontua, no entanto, que o caso não é isolado.

Em dezembro do ano passado, a Rede Mulher e Mídia acionou o MPF contra Fausto Silva, que apresenta o programa Domingão do Faustão. O apresentador afirmou, ao vivo, que há mulheres que gostam de “homem que dá porrada”. “Tem mulher que é doida. ‘Ah, vou recuperar [o companheiro]’. Então, vá ser enfermeira”, disse Faustão.

“Pedimos o direito de resposta e não conseguimos até agora. Estamos entrando de novo com esse mesmo pedido. A Rede Globo, como uma concessão pública, deveria servir aos interesses da sociedade de modo geral, falar com diversidade e pluralidade”, disse a psicóloga.

Em 2012, outro caso dentro do BBB tomou grandes proporções quando uma das participantes foi vítima de estupro presumido enquanto estava embriagada e dormindo. O caso demorou cinco dias para ter uma consequência concreta no programa e o participante Daniel Echaniz ser expulso.

Bia Barbosa pontua que, tanto no episódio de 2012, quanto no caso da expulsão de Marcos nesta segunda-feira, a emissora tomou uma atitude por causa do fortalecimento do movimento de mulheres: “Se não tivesse havido essa forte mobilizações das mulheres, não necessariamente esse participante teria sido expulso do programa”, disse.

Para ela, a resposta mais rápida das autoridades policiais e da emissora é um fruto positivo da pressão das mulheres. “Este ano [a pressão] foi muito maior porque, quando a gente segue vendo este tipo de violência sendo legitimada pelos meios de comunicação, o grau de indignação e intolerância cresce na sociedade”, disse Barbosa.

Edição: Vanessa Martina da Silva

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