Como os líderes do Congresso avaliam Bolsonaro e o governo e as chances de aprovação da reforma da Previdência

Sylvio Costa – Congresso em Foco

Solicitados a dar uma nota de um a cinco para o desempenho de Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto, os líderes do Congresso Nacional conferiram ao presidente uma nota média de 2,5. O vice-presidente, general Hamilton Mourão, teve 2,9. Entre os ministros, o maior destaque positivo é Tereza Cristina, da Agricultura, com 3,3. A pior avaliação é do ministro da Educação, Ricardo Vélez – 1,8.

Todas essas informações, e muitas outras, foram obtidas pela primeira rodada de pesquisa feita este ano pelo Painel do Poder. Por meio dessa ferramenta, o Congresso em Foco consulta, a cada três meses, os principais líderes do Congresso Nacional a respeito da avaliação do governo e das políticas públicas, das chances de êxito das principais propostas em debate no Legislativo e de suas percepções sobre a conjuntura política, econômica e social.

Parte dos dados é de acesso exclusivo para clientes que pagam pelo direito de receber o conteúdo integral, de incluir perguntas no questionário ou mesmo de participar de apresentações presenciais dos resultados (os interessados podem pedir mais informações pelo email [email protected]). O projeto permite compartilhar aqui no site dados obtidos com fundamentação científica. No final deste texto, você encontra explicações sobre a metodologia.

Reforma da Previdência

Na primeira pesquisa do Painel do Poder, feita em março de 2017, os líderes  do Congresso à época sinalizaram com grande antecedência as baixíssimas chances de vitória da reforma da Previdência do ex-presidente Michel Temer. Demoraria ainda quase um ano para o governo jogar a toalha e dar a reforma como definitivamente perdida. Uma curiosidade é que, desde o primeiro momento, o hoje ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, profetizou o fracasso da tentativa de Temer.

Bem distinto é o cenário que a ferramenta apontou agora em relação ao pensamento dos líderes sobre o tema. Embora 75,4% considerem que a reforma previdenciária esteja sendo “mal conduzida” pelo governo Bolsonaro, ante apenas 10,5% que a têm como “bem conduzida” (os demais 14,1% preferiram não responder), os prognósticos em relação às chances de aprovação são razoavelmente altos em relação a um dos pontos essenciais e de maior impacto fiscal a longo prazo, que é a fixação da idade mínima.

Como antecipou o Congresso em Foco, as regras propostas pelo Ministério da Economia para a aposentadoria rural e os benefícios de prestação continuada, que beneficiam mais de 30 milhões de pessoas, encontram grande resistência no Legislativo. Os líderes também apontam como escassas as chances de vitória de uma ideia defendida enfaticamente pelo ministro Paulo Guedes, a substituição do regime de repartição (no qual as receitas do sistema integram uma conta comum e os trabalhadores da ativa financiam os gastos com aposentados) pelo regime de capitalização (em que cada um contribui para sua própria aposentadoria por meio de contas individualizadas). Eis os números:

Governo melhor avaliado que presidente

As políticas do governo Bolsonaro mais bem avaliadas pelos líderes são aquelas voltadas para a agricultura e pecuária (nota 48,5 numa escala de zero a 100) e para a elevação da confiança do mercado (52,5). Implícito no segundo caso fica o apoio da maioria à política econômica de Paulo Guedes. Sintomaticamente, quase 60% dos entrevistados anteveem melhoras para o setor agropecuário nos próximos 12 meses. Também são os altos os percentuais dos que possuem expectativas de melhora para as áreas de desenvolvimento econômico (52,6%), segurança pública, combate à corrupção e criação de emprego e são para os campos dos direitos humanos (49,1%), educação (47,4%) e relações externas (33,3%). Veja o quadro completo:

Levando em consideração todas as respostas obtidas quanto ao desempenho atual das diversas políticas federais e das suas perspectivas futuras, o Painel do Poder calcula o índice de avaliação do governo, que varia de -100 até +100. E a conclusão é que a avaliação da administração iniciada em 1º de janeiro deste ano é positiva. A nota final é de 39,9, bem superior ao ponto médio da escala (que seria zero).

Já Bolsonaro, o presidente, tem uma avaliação exatamente na média. Poderia chegar até 5. Sua nota ficou em 2,5. Abaixo, a avaliação dos principais membros do governo:


Avaliação dos principais membros do governo

(Média ponderada para nota mínima de 1 e máxima de 5)

Jair Bolsonaro, presidente – 2,5

Hamilton Mourão, vice-presidente – 2,9

Tereza Cristina, ministra da Agricultura – 3,3

Augusto Heleno, ministro de Segurança Institucional – 3,0

Luiz Henrique Mandetta, ministro da Saúde – 3,0

Sergio Moro, ministro da Justiça – 3,0

Osmar Terra, ministro da Cidadania – 2,9

Paulo Guedes, ministro da Economia – 2,9

Azevedo e Silva, ministro da Defesa – 2,7

Onyx Lorenzoni, ministro da Casa Civil – 2,3

Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente – 2,3

Damares Alves, ministra dos Direitos Humanos – 2,2

Ernesto Araújo, ministro das Relações Exteriores – 2,1

Ricardo Vélez, ministro da Educação – 1,8


Metodologia

O Painel do Poder é desenvolvido por uma equipe que inclui profissionais de Ciência Polícia e Estatística. Ele ouve, além de líderes partidários propriamente ditos, parlamentares com influência em diversas áreas temáticas, membros das mesas diretoras e presidentes de comissões importantes da Câmara e do Senado. O grupo dos líderes forma um painel seleto, com pouco mais de cem congressistas, dos quais pelo menos metade mais um precisam ser ouvidos a cada onda de pesquisa. Nesta primeira rodada de 2019, foram ouvidos 57 congressistas entre 18 e 22 de março.

Quanto à posição em relação ao governo Bolsonaro, 38,6% dizem apoiar de forma consistente, 17,5% falam em “apoio condicionado” e 31,6% se definiram como de oposição. São deputados pelo menos 60% dos entrevistados; 10,5% não revelaram sua casa legislativa e 29,5% se declararam senadores.

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