Guilherme Boulos: “Decisão de Moro cria ambiente para prisão de Lula”

 

prisão preventiva de Eduardo Cunha pela Lava Jato é aguardada com ansiedade por movimentos sociais e setores da esquerda, principais alvos da agenda de retrocessos tocada pelo ex-presidente da Câmara nos últimos anos. A decisão do juiz Sérgio Moroinspira, porém, forte desconfiança entre aqueles que há tempos cobram uma punição pelos crimes atribuídos ao deputado cassado por quebra de decoro.

“A prisão de Cunha é esperada e desejada há um longo tempo, desde 2015 há provas contundentes de seu envolvimento com a corrupção na Petrobras. Prendê-lo só agora parece ser, porém, uma jogada de Moro para mostrar que a Lava Jato não é seletiva. Dessa forma, cria-se o ambiente para uma prisão arbitrária do ex-presidente Lula”, avalia Guilherme Boulos, coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto.

Divulgada nesta quarta-feira 19, a pesquisa CNT/MDA captou uma ampla desconfiança popular sobre o viés político da Lava Jato. Apenas 31,6% dos entrevistados avaliam que a operação “só traz benefícios para o Brasil e tem sido conduzida de forma adequada”. Para 39,6%, ela está contribuindo para combater a corrupção, “mas tem sido conduzida de forma parcial”. Outros 19,3% avaliam que não contribui para o combate à corrupção e “é uma operação muito ruim para o Brasil”.

Uma das principais lideranças da Frente Povo Sem Medo, Boulos pondera que o peemedebista pode provocar um terremoto político se firmar um acordo de delação com a força-tarefa de Curitiba e contar tudo o que sabe. “Se Cunha abrir a boca, Temer não dura uma semana no Palácio”.

Poucos minutos após o plenário da Câmara cassar o seu mandato, em setembro, Cunha deixou claro que não pretende sair de cena em silêncio. Em entrevista coletiva, atribuiu sua queda a uma associação entre o governo Michel Temer e o PT e, embora tenha negado a possibilidade de fazer uma delação premiada, fez questão de frisar ter uma boa memória sobre todos os diálogos que travou nos últimos dois anos.

As declarações, somadas às ameaças veladas enviadas por meio da imprensa, mostram que Cunha tem o governo como alvo. O peemedebista se diz vítima de vingança política, perpetrada pelo PT, partido desalojado do Planalto após 13 anos graças a um impeachment por ele conduzido. Mas o PT, sozinho, não teria forças para derrotá-lo, avalia.

“Eu culpo o governo Temer hoje, não porque ele tenha feito algo para me cassar, mas quando o governo patrocinou a candidatura do presidente que se elegeu, em acordo com o PT, de uma certa forma aderiu à agenda da minha cassação”, afirmou Cunha na ocasião.

 

Cunha
Após ser cassado, Cunha deixou claro que não pretende sair de cena em silêncio (Evaristo Sá/AFP)

A frase é uma referência à eleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ) para a presidência da Câmara. Em julho, ele derrotou, com apoio do Planalto, Rogério Rosso (PSD-DF), candidato do chamado “centrão”, bloco de apoio a Cunha que buscava a presidência da Casa para adiar a análise sobre a cassação peemedebista. Maia se comprometeu, porém, a pautar rapidamente a análise do parecer do Conselho de Ética sobre Cunha.

Para Cunha, a vitória de Maia foi fruto de um acordo entre o governo e o PT, que teria como núcleo sua cassação. “O governo tem uma eminência parda, que é quem comanda o governo, o Moreira Franco, sogro do presidente da casa”, disse Cunha após a sua cassação. “E o presidente da Casa, apoiado pelo governo, se associou ao PT.”

Na avaliação de Boulos, é preciso observar com atenção os desdobramentos da prisão de Cunha. “Qual será a reação dele? Vai delatar os antigos parceiros de negócios? E como vai agir o juiz Moro?”, pergunta-se. “Os dados foram lançados na mesa, mas ainda é cedo para ter a completa dimensão dos impactos políticos da prisão de Cunha”.

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