Veneno na mesa: manifestantes saem às ruas contra os agrotóxicos e a bancada ruralista

 

Nesta quarta-feira, 03 de dezembro, Dia Internacional de Luta contra os Agrotóxicos, ambientalistas e movimentos sociais sairão às ruas de todo o mundo e particularmente do Brasil para denunciarem os danos causados pelo modelo agroindustrial de produção agrícola. Dezenas de cidades brasileiras já confirmaram mobilizações. Os atos se fortalecem tendo em vista a polêmica em torno da indicação da senadora Kátia Abreu (do Partido do Movimento Democrático Brasileiro – PMDB) para assumir o Ministério da Agricultura no próximo governo da presidenta reeleita Dilma Rousseff (Partido dos Trabalhadores – PT), em 2015, além do reforço e ampliação da bancada ruralista no Congresso Nacional nas eleições deste ano.

Além de denunciar os impactos negativos do agronegócio, os manifestantes exigem mais estímulo à agroecologia, uma alternativa à produção de alimentos saudáveis e com capacidade de garantir a segurança alimentar da população, através da agricultura familiar e camponesa.

A Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e pela Vida convoca os/as cidadãos/ãs brasileiros/as a se unirem para exigirem comida sem veneno neste dia 03 de dezembro. Para isso, também é fundamental que o Congresso defenda a saúde da população e a agricultura familiar, responsável pela produção de 70% dos alimentos que chegam à nossa mesa.
Além disso, a Campanha defende o fim da pulverização aérea, prática utilizada pelo agronegócio, e a reforma política, de maneira a reduzir o peso dos interesses econômicos e viabilizar a representação popular na Câmara e Senado. Os ruralistas, por sua vez, defendem os interesses de cerca de 1% dos proprietários.

Para mais informações, contate a Secretaria Operativa da Campanha (pelo e-mail [email protected]) e veja aqui as mobilizações agendadas. São manifestações dos movimentos sindical e sociais, que acontecerão em todo o país. Em São Paulo, a Central Única dos/as Trabalhadores/as (CUT) promoverá um diálogo com a população por meio de uma rádio itinerante, a partir das 11h desta quara-feira, na Praça do Patriarca, região central da capital paulista. A mobilização discutirá ainda a necessidade de os movimentos estarem nas ruas para pressionarem o governo federal a adotar políticas progressistas para o campo, contra o forte viés conservador que defende os interesses do agronegócio Haverá ainda aulas públicas, panelaço, panfletagem e a “Feira dos envenenados”, esta última no Distrito Federal.

Panorama brasileiro

O Brasil se consagrou como o maior consumidor mundial de agrotóxicos desde 2008, ultrapassando os Estados Unidos. Desde então, mais de 1 bilhão de toneladas desses insumos são despejados nas lavouras brasileiras, sem contabilizar o uso doméstico e fitossanitário. Grosso modo, cada brasileiro consome 5,2 litros desses insumos todos os anos, cujos danos à saúde, especialmente os crônicos, ainda não são de todo conhecidos.

Apesar de diversos estudos científicos comprovarem a associação dos agrotóxicos e cânceres, abortos, más-formações congênitas, alterações neurológicas e somáticas, Alzheimer, entre outros, o governo brasileiro continua a estimular o setor, através de isenção fiscal – os agrotóxicos têm 60% de isenção do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), e muitos ainda possuem 100% de isenção do IPI [Imposto sobre Produtos Industrializados],e contribuições do PIS/PASEP e Cofins. Em 2013, o mercado de agrotóxicos movimentou aproximadamente US$ 11,5 bilhões. Contudo, pesquisas recentes apontam que, para cada US$ 1 gasto com agrotóxicos, são gastos U$1,28 para cuidar de casos de intoxicação agudas no SUS (Sistema Único de Saúde).

O Agronegócio é ainda o maior responsável por esse modelo que privilegia as monoculturas, facilitando a difusão das chamadas “pragas” agrícolas, e a exportação de commodities, não contabilizando os danos à saúde provocados na população. Embora o setor seja responsável por apenas 30% do que chega às mesas dos brasileiros, a contaminação causada por esses insumos é sistêmica, visto que a presença de agrotóxicos já foi detectada no solo, água, ar e até mesmo na chuva e no leite materno.

As principais reivindicações da Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e Pela Vida são: proibição da prática ineficiente pulverização aérea (que atinge no máximo 30% do alvo), a exemplo do que ocorre na União Europeia; banimento de agrotóxicos já banidos em outros países do mundo (dos 50 agrotóxicos mais usados no Brasil, 22 já foram proibidos na União Europeia, por exemplo); fim das isenções de impostos dadas aos agrotóxicos; criação de zonas livres de agrotóxicos e transgênicos, para o livre desenvolvimento da agroecologia; e maior controle para evitar a contaminação da água por agrotóxicos.

O Dia Internacional de Luta Contra os Agrotóxicos

A data foi estabelecida pela Pesticide Action Network (PAN) para recordar as 30 mil pessoas falecidas (8 mil morreram nos três primeiros dias), muitas delas crianças, na catástrofe de Bhopal, Índia, ocorrida em 1984. Na tragédia, vazaram 27 toneladas do gás tóxico metil isocianato, químico utilizado na elaboração de um praguicida da Corporación Union Carbide, em uma zona densamente povoada. 560 mil pessoas continuam com sequelas do acidente e, até hoje, a corporação, incorporada a Dow Química, não indenizou as vítimas.

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