Os movimentos sociais, a reforma política e as eleições

Nos últimos meses, construíram-se vários espaços unitários e plenárias setoriais entre os mais diferentes mo­vimentos sociais para discutir os pro­blemas brasileiros e tomar iniciativas de mobilizações populares.

Houve grande afinidade e unidade que articulou praticamente todos os movimentos sociais do país em torno da necessidade de uma reforma po­lítica. Já que consideramos que o fi­nanciamento privado das campanhas faz com que as empresas sequestrem a democracia brasileira e elejam ape­nas os seus escolhidos. Nessa cam­panha serão gastos mais de R$ 4 bi­lhões, por apenas 117 empresas fi­nanciadoras!

Para conseguirmos a reforma po­lítica plena e ampla, só há um cami­nho possível: a convocação de uma assembleia constituinte soberana e exclusiva. Nessa semana conhecere­mos os resultados do plebiscito po­pular sobre a necessidade de con­vocação de uma assembleia consti­tuinte. Depois, nos dias 14 e 15 de outubro, a coordenação da campa­nha convocou uma plenária nacio­nal massiva, em Brasília (DF), on­de devem chegar um ônibus de mi­litantes por estado. Lá em Brasília, os movimentos vão entregar o resul­tado do plebiscito para as autorida­des dos Três Poderes da República. E também anunciarão o início da coleta de assinaturas entre senadores e de­putados para um decreto legislativo que convoque um plebiscito legal e obrigatório para que toda população se manifeste se quer ou não uma as­sembleia constituinte soberana para realizar uma reforma política.

Se tudo der certo, o plebiscito obri­gatório seria realizado no primei­ro semestre de 2015, para que então possamos eleger os constituintes de forma independente, no segundo se­mestre de 2015 ou início de 2016.

Sem uma reforma política ampla, que envolva inclusive o Poder Judi­ciário e o controle dos meios de co­municação como parte do sistema político brasileiro, é impossível rea­lizar as reformas estruturais que ne­cessitamos para resolver os proble­mas do povo. E para isso, deveremos seguir nos mobilizando nas ruas.

2. AS REFORMAS ESTRUTURAIS

Nesse contexto, um conjunto de mais de 60 movimentos sociais, da maior amplitude setorial de nosso povo, debateu e apresentou uma pla­taforma política sobre as mudanças estruturais necessárias. Essa plata­forma política dos movimentos so­ciais (vide nessa edição e na pagina http://www.brasildefato.com.br/no­de/29832 ) representa um progra­ma unitário dos movimentos sociais, para a luta permanente na nossa so­ciedade, que ultrapassa o calendário eleitoral.

As eleições são importantes e ne­cessárias. Podem alterar a correla­ção de forças institucionais. Porém, os movimentos e as forças populares devem ter um programa de mudan­ças, que oriente suas lutas sociais, su­as mobilizações e seja uma espécie de bússola para o caminho a seguir. Desde as campanhas das Diretas Já e as eleições de 1989, não havíamos lo­grado tamanha unidade programáti­ca entre os movimentos sociais. E is­so é muito significativo diante da cri­se política de representação institu­cional que vivemos. Assim, esse pro­grama unitário representa um avan­ço enorme, e certamente servirá de baliza para as ações comuns.

3. AS ELEIÇÕES

Os debates que houveram em tor­no das eleições demonstraram que há visões diferenciadas sobre a for­ma como se comportar. Há unidade de que devemos colocar nossas ener­gias para eleger o maior número pos­sível de parlamentares comprometi­dos com a classe trabalhadora, que existem em todos os partidos. Apesar da desigualdade imposta nas campa­nhas pelo poder econômico.

Há unidade também, de que de­vemos colocar energias para eleger os candidatos a governador que re­presentam posições progressistas e de esquerda, frente à ofensiva con­servadora que estamos assistindo nos estados.

Em relação à eleição presidencial, a maioria dos movimentos quer man­ter sua autonomia como organiza­ção. Portanto, suas direções não deli­beraram por este ou aquele candida­to, como forma de manter a autono­mia política e preservar os princípios de movimentos sociais. Embora, há alguns movimentos, sobretudo sindi­cais, que tomaram a deliberação nas suas direções de apoiar este ou aque­le candidato.

No entanto, entre os dirigentes e militantes de movimentos sociais, percebe-se que a ampla maioria es­tá apoiando a candidatura da Dilma, apesar das críticas aos limites do pro­grama neodesenvolvimentista dos últimos anos. Alguns militantes es­tão fazendo campanha para Luciana Genro, como espécie de voto de pro­testo e em reconhecimento à sua pos­tura política não sectária durante a campanha. E, em número cada vez menor, há também militantes que apostam na possibilidade da candi­datura Marina Silva, embora as crí­ticas a essa candidatura aumentem a cada dia, em função de suas alianças conservadoras, às suas vacilações so­bre temas polêmicos, como recursos do Pré-Sal, transgênicos, união civil homoafetiva etc. E muitos militan­tes estão lhe fazendo oposição aberta, por suas posturas de defender a inde­pendência do Banco Central, as crí­ticas a Cuba e Venezuela, e outros si­nais claramente a favor da classe do­minante brasileira.

Nosso jornal tem a missão de se­guir fiel às deliberações da maioria dos movimentos sociais, reconhe­cendo a legitimidade das diferen­tes visões.

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