Os partidos e a democracia

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Denis Russo Burgierman

Partidos políticos foram uma belíssima invenção. De tirar o chapéu.

 

Antes deles, o mundo era um lugar brutal. Havia quem mandava e quem obedecia. Quem tinha grana e terras, podia comprar violência, podia mudar qualquer lei, tinha poder de vida e morte sobre qualquer um.

 

Há quem veja a divisão entre patrícios e plebeus, na Grécia antiga, como o primeiro PSDB X PT da história. Mas os partidos como conhecemos foram criados mesmo pelos ingleses, no século 17, quando começou-se a levar a sério o poder das assembleias representativas. A democracia ocidental moderna engatinhava – e desde o início ela tinha partidos.

 

Partidos são importantes porque eles coletam demandas difusas na sociedade. Como são difusas, essas demandas nunca tiveram voz antes. Um nobre folgado invadiu a minha casa, estuprou minhas galinhas e degolou o meu cachorro? Azar é meu. Ele fez porque pode. Mas, a partir do momento em que um grande número de pessoas como eu, sem poder, entrega sua representação a um partido, elas passam a ter poder. É isso que partidos fazem: juntam grandes quantidades dessas demandas difusas e assim reúnem apoio suficiente para agirem como nossos representantes. O grande poder dos partidos, portanto, provém das pessoas – da sociedade. Eles são poderosos porque representam muita gente.

 

Cada um que encontre seu representante. O simpático moço do grafite achou o dele.

 

Ou pelo menos deveria ser assim. Nem sempre os partidos políticos tiram seu poder da multidão que eles deveriam representar. Ao longo do século 20, política virou um negócio gigantesco, e as disputas do poder ficaram cada vez mais acirradas e milionárias, com uma caríssima camada de marketing que decide as eleições aplicada sobre cada político. Isso corrompeu a ideia básica da democracia: de que as pessoas no poder estão lá para agir em nosso interesse. Os partidos se desconectaram das pessoas. É claro que há exceções, milhares delas, mas a regra, hoje, em praticamente todos os países democráticos, ricos e pobres, é que partidos dedicam mais energia e recursos a permanecer no poder do que a nos representar.

 

Enquanto isso acontece, o mundo muda. Cada um de nós, hoje, está conectado a quase todos os outros. Lembra daquelas “demandas difusas” da sociedade, que seriam deixadas às moscas se não houvesse um partido para coletá-las? Pois então, hoje eu posso entrar em contato diretamente com pessoas com exatamente as mesmas demandas difusas que eu e reunir recursos para atendê-las (humanos, materiais, de conhecimento, financeiros). Isso nunca foi possível antes. Sem internet, não tem como eu sair batendo na porta de todo mundo em busca de alguém com demandas iguais.

 

Partidos políticos são intermediários. E, neste mundo ultraconectado de hoje, intermediários estão em apuros, ainda mais quando o único serviço que eles prestam é conexão. Talvez muitos de nós não precisemos de ninguém para nos representar, em muitos assuntos. Talvez haja um número crescente de pessoas dispostas a procurar um bom problema e simplesmente dedicar-se a resolvê-lo, sem ninguém entre si e o problema.

 

Isso não quer dizer que os partidos precisem desaparecer. Talvez a saída para que eles continuem existindo é reconectar-se ao mundo – remover a camada de marketing, convidar as pessoas para trazerem ideias, trabalhar na realização dos sonhos dos outros.

 

Mas o trabalho de reinvenção dos partidos é um assunto para cada partido discutir. O que não dá é para o resto de nós na sociedade tenhamos que nos conformar com a baixa qualidade da representação. Não acho que partidos devam ser extintos, ou proibidos, nem impedidos de se manifestar ou de se pronunciar, nem que devam apanhar em manifestações, nem ser culpados pelos males da democracia. Mas tampouco acho que eles devam ter o monopólio da nossa representação. Os partidos podem me representar – mas apenas se e quando eu quis

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