Utopia?
por Mariko Hanashiro
Na democracia que queremos
Sonhos não são roubados por bala perdida
Não se mata em camburão
Não se morre esperando leito no SUS
Não se quebra o terreiro
Não tem perfil de cidadão suspeito
Na democracia que queremos
O bolso do agro não está cheio
E o prato das famílias vazio
Vamos mexer nesse vespeiro
Na democracia que queremos
O mercadinho não faliu
Devorado pela concorrência das grandes redes
Na democracia que queremos
Tem comida na mesa
Dinheiro no bolso
Possibilidade de sonhar
Não se tira dinheiro do SUS, da educação,
Assistência social
Não se rouba da previdência
Pros ricos dar preferência
Não se investe em bala que mata preto
Nem tem menino vendendo no farol
bala
Indígenas têm suas terras preservadas
Sua identidade resguardada
Os inquilinos somos nós
Não-indígenas
A água não é vermelha
A terra contaminada
As árvores derrubadas
Não
Amazônia preservada
Não se mata ativista
Lideranças
Sonhadores
Que transformam o mundo hoje
Para amanhã ser melhor
Não tem ameaça de morte
De quem hoje grita forte
Andersons Samias
Jeans Dudas
Manuelas
Sem medo denunciar
Tem comida manhã tarde noite
Não se rouba da merenda
Não se come osso
Agrotóxicos
E transgênicos
Não se troca arroz feijão frango e salada
Por um prato de miojo
Rico paga mais imposto
Pra gente ter menos desgosto
Defesa de universidade federal
Teto água comida
Emprego respiro
Afeto riso
Sonhos
Arte
Dinheiro até o fim do mês
Tudo isso faz parte
Trabalho
Descanso
Canto
Encanto
Não se tem medo da morte
Não se fica à própria sorte
Os espaços de poder
Não são só de uma cor
gênero raça
Indígenas
quilombolas
LGBTS
Mulheres
Pessoas do campo
Gente que passou fome
Negros e negras
Refugiados
Pessoas com deficiência
Tudo isso no poder
Judiciário não é vendido
Nem usa dois pesos ou duas medidas
Não se barganha votos
Brincando com a fome
Não se barganha votos
Com possibilidade de cabide de emprego
Cada um pode ser
Cada um pode amar
Ter o corpo livre
para a si mesmo legislar
Cidades com hortas urbanas
Praças para recitar slam
Centros culturais
Acessibilidade
Sem medo de andar na rua
Para andar de mãos dadas com quem quiser
Cidade do povo
Cidade pro povo
Para não demorar duas horas para chegar no trabalho
Para não ser tratado como sardinha em lata
No transporte público
Respeito com quem planta
Pequenos agricultores
Que comida na nossa mesa colocam
Democracia sem labirintos burocráticos
Com acesso facilitado a direitos
Pessoas tratadas com respeito
Não como processo caso ou problema
Na democracia que queremos
Se legisla com escuta
Se governa para o povo
Queremos
Que o povo lucre
Lucre mais que os bancos
Que o povo lucre
Mais que os poderosos brancos
Que o Estado de Direito
Exista nos mais profundos rincões
Onde até hoje
Só chegou balas mortes e prisões
Na democracia que queremos
Que o povo que hoje grita
Seja escutado
Que o que não tá bom hoje
Seja reformulado
A democracia que queremos
Não é voltar pra democracia
Que até então
Disseram que tínhamos
É avançar pra uma democracia
Num horizonte muito maior
✊? Texto escrito para a campanha A Democracia que Queremos, promovida pela Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma do Sistema Político