REPRESENTATIVIDADE JOVEM NA POLÍTICA

O cenário em Feira de Santana – BA exemplificando o cenário nacional: baixa participação da juventude entre candidatos e eleitos

Por Andressa Franco

Entre as condições de elegibilidade estabelecidas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), está o critério da idade, que é verificado tendo como referência a data da posse. A idade mínima para concorrer a cargos de prefeito(a) ou vice-prefeito(a) é de 21 anos, e 18 anos para disputar uma vaga como vereador(a). 

Analisando os perfis da Divulgação de Candidaturas e Contas Eleitorais do TSE nas eleições de 2020 em Feira de Santana, cidade no interior da Bahia, dos quase 700 candidatos à Câmara Municipal, poucas dezenas têm menos de 30 anos, entre os oito deferidos para concorrer à prefeitura, apenas dois têm menos de 35 anos. Dados do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-BA) indicam que, este ano, cerca de 10 mil jovens votam pela primeira vez no município.

O cenário é muito parecido com o nacional. Se olharmos para as nossas capitais, por exemplo, não há ninguém com menos de 40 anos ocupando a cadeira da prefeitura. Mas, no último dia 15, as pessoas foram às urnas e algumas mudanças significativas foram vistas nas Câmaras Municipais de muitas cidades, como é o caso de Bia Caminha, 21, eleita a vereadora mais jovem da história de Belém, capital do Pará.

“Isso tem a ver com a concepção de política. Essa política tradicional, coronelista, conservadora, não traz para dentro do espaço político o protagonismo desses conjuntos de sujeitos e sujeitas que fazem a política no seu dia a dia e, sem sombra de dúvidas, o que exclui esses sujeitos é esse formato”, explica Marcela Prest, 33, candidata à prefeita mais jovem em Feira de Santana pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), partido que preside na cidade. 

Natural de Vitória, capital do Espírito Santo, Marcela começou na militância na transição da adolescência para a juventude e acredita que a ausência de jovens no meio político pode ser justificada por um processo histórico de exclusão de quem compõe a maioria da população, mas ocupa a minoria dos cargos de poder, dominados pelas elites.

Marcela Prest

Mãe, doula e feminista negra, afirma que não percebe a idade como um problema para o eleitorado, mas sim nas mídias, “Eu sinto isso a partir de como a mídia me coloca, de como eles perguntam as coisas, de como eles afirmam determinadas questões sobre mim, inclusive que não são verdadeiras”, conta. 

Quanto ao eleitorado, a candidata diz notar que quando pedem por uma mulher jovem, não se trata necessariamente da juventude da idade, mas do ponto de vista de uma nova forma de fazer política, que seja transparente e radicalmente democrática. Independente, inclusive, de experiência prévia em cargos executivos, por considerar as candidaturas que estão há mais de 20 anos no poder governando apenas para uma pequena parte da população, que não representa a diversidade da maioria. 

Outro candidato que não sentiu insegurança por parte do eleitorado quanto à sua idade é João Victor Barreto, 19, que concorre a vereador pelo Partido Social Liberal (PSL). O candidato acredita que apenas jovens compondo a Câmara Municipal poderão trazer à tona com vigor as pautas que dizem respeito à própria juventude, como políticas públicas voltadas para cursos profissionalizantes, estímulo ao primeiro emprego e incentivo a Grêmios Estudantis. O que, para Barreto, não significa deixar de dialogar com os políticos mais velhos, independente de partido ou ideologia, mas aproveitar a experiência dos mesmos.

Cursando Direito na Faculdade Pitágoras, João Victor tem como destaque em sua campanha representar a juventude e toda a sociedade que esteja em busca de renovação. “O que nós temos a oferecer para a nova política? É uma nova forma de fazer política ouvindo mais, incrementando mais junto da comunidade e fazendo uma política participativa. Porque o jovem hoje quer isso e políticos jovens querem isso: estar mais próximo da comunidade. A comunidade sofre muito com a velha política”, pontua Barreto.

João Victor Barreto

O candidato argumenta que os jovens estão decepcionados com a política por conta do cenário que lhes foi passado por seus pais, que veem a política como uma ferramenta já desgastada “Hoje nós não temos uma política de exemplo, por isso que os jovens não se engajam. Mas eu vi de outra forma, por não termos exemplos, nós precisamos levar exemplo”, completa.

Para a candidata do PSOL, Marcela, o incentivo da discussão e participação política precisa vir das escolas, incluindo os diversos perfis de juventude, seja dos espaços urbanos ou rurais. Para chegar lá, ela vê como estratégia o investimento em agendas culturais como instrumento de visibilidade positiva do papel da juventude, a exemplo da implantação e reforma de quadras poliesportivas, pistas de skates, arenas de teatro, criação de núcleos de jovens nas unidades dos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) e investimento nos Centros de Artes e Esportes Unificados (CEUS).

“Se a gente tem uma política pública no município que envolva esse conjunto de jovens que apresente alternativas nessas 3 dimensões: do trabalho, da educação e da cultura a gente sabe que essa também é uma forma, que quando você garante direitos, você enfrenta a violência, o extermínio da juventude negra, e cria alternativas”, defende Prest.

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