Corrupção e participação popular são debatidas no Ipea

 

A pobreza no Brasil diminuiu de forma significativa, com aproximadamente menos 22 milhões de pobres entre 2002 e 2012. Mas, mesmo com todos os avanços nos últimos períodos, o país passa por um intenso processo de questionamento em relação ao desempenho da democracia e sua representação social. E foi sobre esse tema que o Ipea organizou, em Brasília, o debate “Impasses da Democracia no Brasil”.

O evento, na última sexta-feira, dia 29, às 16h, recebeu o professor titular da Universidade Federal de Minas Gerais e presidente da Associação Brasileira de Ciência Política, que acaba de lançar um livro homônimo ao tema do debate, Leonardo Avritzer. Para debater com ele, participaram o presidente do Ipea, Jessé Souza, e a professora do Instituto de Ciência Política da UnB Marisa von Bülow. A mediação da conversa foi feita pelo chefe de gabinete do Instituto, Fábio de Sá e Silva.

Para Jessé, a crise pela qual o Brasil passa é um reflexo do que ocorre no restante do mundo. “Essa é uma crise de representação mundial, não apenas brasileira. Tem a ver com a apropriação da política”, explicou. Já a professora do Instituto de Ciência Política na UnB Marisa von Bülow destacou que o debate sobre os limites e ferramentas de participação da democracia brasileira permite fazer uma reflexão cuidadosa sobre o momento que vive o Brasil.

Avritzer reconheceu que o campo da Ciência Política no Brasil está passando por um momento de profunda revisão face aos recentes movimentos políticos no país. “Não tínhamos análises erradas, mas parciais. Para mim, infelizmente, a gente possui um sistema político brasileiro imune à participação social”. Segundo o cientista político, está em discussão uma reorganização ampla da economia e da política no Brasil. “O mercado, hoje, não quer mais conviver com a democracia participativa. A elite política brasileira voltou com suas velhas práticas. Não quer mais partilhar o poder, ela quer o poder”.

O professor defendeu que não é possível uma saída judicial para a crise vivida no Brasil. “Há um alinhamento do Judiciário com o Congresso Nacional. São necessárias novas eleições, a fim de garantir que a soberania popular reconstitua o processo político”. Para ele, é provável que ocorra uma pluralização da esquerda no país.

A dinâmica do evento contou com duas rodadas de perguntas e respostas entre os três debatedores convidados. Depois disso, o público presente também participou do debate. O chefe de gabinete do Ipea lembrou que nesta terça-feira, dia 3, o Instituto realizará mais uma rodada de conversas, com a presença do professor Luiz Carlos Bresser Pereira, sobre o tema “Economia, Desenvolvimento e Democracia”.

Recuperar a base social

Em seu livro, Avritzer explica que há uma mudança no padrão de participação social, marcado pela seletividade de políticas e atores nas administrações participativas no Brasil, pela ruptura do monopólio da esquerda em relação à participação e com um redesenho da mobilização social no país. Ele também destaca que a democracia brasileira vive um impasse do crescimento, caracterizado pelo sucesso de algumas políticas, como a da inclusão social, e pelo insucesso em outras áreas, como a perda de controle sobre a corrupção.

Em que pese a avaliação dos limites do presidencialismo, o combate à corrupção, a participação popular e mobilização social, Avritzer defende que é necessário recuperar a base social do progressivismo, tornando o Brasil uma democracia mais participativa, mais transparente e capaz de continuar um processo de inclusão social.

Confira a entrevista.

 

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