Roda de conversa entre movimentos, organizações sociais e a Plataforma debate conjuntura nacional e da região Sul do Brasil

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Representantes de movimentos e organizações sociais do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, participaram nos dias 15 e 16 de outubro, da roda de conversa da Região Sul, promovida pela Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma do Sistema Político. O encontro, realizado com apoio da União Européia, foi o último, em 2022,  de um ciclo de mais quatro encontros regionais para debater a conjuntura local e nacional. A roda de conversa teve  como intuito debater alguns temas cruciais para o Brasil e também para a região Sul: quais os caminhos para construir um novo sistema político? Quais direitos devem ser garantidos para fortalecer a democracia e contribuir para uma sociedade justa e inclusiva? Qual sistema eleitoral e político que nos representa?

Após as boas-vindas e acolhimento aos participantes da roda de conversa, houve um momento de declamação poética com a atriz e produtora Silvia Duarte. Em seguida Romi Bencke, do grupo de referência da Plataforma, e também representante do CONIC (Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil),  recordou alguns pontos debatidos no Encontro Nacional Online da Plataforma (ocorrido em fevereiro de 2021. “O encontro nacional estabeleceu aspectos importantes para os encontros regionais”, destacou Romi. 

Dando continuidade, representantes de movimentos e organizações sociais do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul fizeram uma análise da conjuntura nacional e regional. Essa exposição foi norteada por questões como: que lutas os movimentos sociais populares estão enfrentando na região? Que desafios estas lutas enfrentam do ponto de vista da democratização do poder e/ou do ponto de vista da relação estado/sociedade. Como pensar o bem-viver como prática política?

Os participantes destacaram que o racismo é um dos principais entraves para uma reforma política que abranja toda a sociedade. No contexto regional o racismo e privilégio, em especial de homens brancos, que estão no poder, foram um dos tópicos em destaque. Foi lembrado o caso de Beto Freitas (homem negro, assassinado no supermercado Carrefour, no Rio Grande do Sul) que mobilizou as lideranças e movimentos negros no estado. A xenofobia, em especial, direcionada a emigrantes das regiões Norte e Nordeste, e imigrantes e refugiados da Venezuela e Haiti. Foi destacada a falta de oportunidades de trabalho e o descaso total dos governos da região Sul, com a população de refugiados e imigrantes. Os representantes dos povos originários do Sul também lembraram sobre a luta pela terra, em especial no contexto do marco temporal – que chegou em julgamento no Superior Tribunal Federal – STF, em virtude da disputa da Terra Indígena Ibirama LaKlãnõ, localizada em Santa Catarina. O avanço do agronegócio, a destruição do bioma pampas e da mata atlântica, e a expulsão dos povos originários dessas terras, também foi mencionado pelos participantes do debate. 

No segundo dia de encontro, José Moroni, do grupo de referência da Plataforma e membro do colegiado do INESC (Instituto de Estudos Socioeconômicos) falou sobre a versão 3.0 da Plataforma. O documento é uma sistematização, de diálogos e convergências políticas, desde 2016 até o presente momento. Também farão parte do subsídio para versão 3.0, os debates que foram realizados nas rodas de conversa regionais em 2021, webinários, artigos, programas de rádio, vídeos e campanhas (que são divulgados pela Plataforma no site e nas mídias sociais). O documento, que tem como meta ser finalizado em 2022, tem como temas centrais o enfrentamento ao racismo, ao patriarcado e a lesbohomotransfobia.

Em seguida, os representantes de movimentos e organizações sociais foram convidados a refletir sobre o processo político da região Sul, nas perspectivas da primeira vereadora negra eleita em Joinville, Ana Lúcia Martins. “A nossa luta, o nosso fazer político não depende de um espaço institucional. Porem, é importante que nós mulheres e homens negros, estejamos nos espaços de poder. Não só pra dizer o país que queremos, mas para romper esse sistema de branquitude, em que essas pessoas falam por nós”, afirmou Ana Lúcia. A vereadora destacou que é preciso “enxergar” de dentro para fora, fazendo uma autocrítica de como os movimentos, por exemplo, o que os movimentos e organizações de esquerda, desejam para as mulheres e homens negros. “Na maioria dos partidos políticos nós não somos prioridade, estamos para eleger nossos companheiros brancos e mantê-los no poder”, alertou Ana Lúcia. 

Para fechar o encontro, os participantes dialogaram sobre duas perguntas: quais são os pontos que precisam ser considerados para um novo Sistema Político? Queremos a reforma do sistema político ou um novo sistema político? Os aspectos destacados pelos participantes foram: que é necessária a construção de um novo sistema político, que contemple – e principalmente represente – mulheres, negras (os) e povos originários. Além disso, os debates feitos pela Plataforma devem ser ampliados para os âmbitos econômico e social, e também levado à juventude. Que os movimentos, organizações e partidos de esquerda também precisam reconhecer – e mudar esse cenário – que em suas estruturas há racismo, machismo, LGBTQI+fobia. Após as exposições sobre o debate foi ressaltada a importância de adesão à Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma do Sistema Político (que já tem organizações e movimentos). Convidado para encerrar o encontro, Merong Kamarã, liderança indígena do povo Pataxó, celebrou a roda de conversa da região Sul com rezas e cantos.