O Comitês Islâmicos de Solidariedade – CIS agora faz parte da rede de entidades que aderiram à Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma do Sistema Político. Em entrevista, Hajj Mangolin, representante da coordenação nacional do CIS, falou um pouco sobre a entidade, da motivação para aderir à Plataforma e fez uma análise sobre o sistema político atual e um modelo ideal de sistema político. Confira abaixo a entrevista.
Plataforma: O que são os Comitês Islâmicos de Solidariedade – CIS?
Hajj: São fruto de uma articulação de muçulmanas e muçulmanos do Brasil. Empenhados na defesa e construção da Ummah, Nação Islâmica, atuam principalmente na solidariedade aos mais pobres e na defesa dos direitos do povo, da liberdade de culto e do Estado Democrático de Direito. Tem por objetivo fundamental reproduzir estes princípios solidários em todo o país, através da organização de comitês de base por local de moradia, trabalho e estudo ou por afinidades.
Plataforma: Porque vocês decidiram aderir à Plataforma?
Hajj: A luta solidária praticada pelos CIS não se concretiza isoladamente. Por isso, um de nossos eixos é o diálogo inter-religioso e com organizações que tenham afinidade com nossos princípios. Enxergamos na Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma do Sistema Político organizações que se enquadram perfeitamente com este conceito de afinidade de princípios. Além disso, outro compromisso de nossa organização é a luta por um Estado Laico, que garanta a representatividade do povo brasileiro na política, e encontramos na Plataforma propostas que contemplam isso.
Plataforma: Qual a visão da entidade (ou dos representantes) sobre o sistema político atual?
Hajj: Excludente, organizado para privilegiar os privilegiados e defender os interesses de grandes corporações. É um sistema comprometido com o atraso e com as pautas regressivas, com a manutenção de injustiças históricas e o aprofundamento da usurpação do Estado por interesses privados.
Plataforma: Vocês se sentem representados pelo sistema político atual?
Hajj: Não. Ao contrário do que a maioria pensa, o Islam é uma religião, não uma nacionalidade. Então, entre as muçulmanas e muçulmanos há toda diversidade social, econômica, cultural, sexual e regional exatamente como observamos em todas as religiões do Brasil. Desta forma, sofremos as mesmas exclusões, pois somos parte do povo brasileiro. Há um outro aspecto importante a ser destacado que é o aumento de brasileiros e brasileiras sem ancestrais muçulmanos que se convertem ao Islam. Isso reforça, ainda mais, a tese de que sofremos as mesmas exclusões e outras maldades promovidas pelo atual sistema político.
Plataforma: Qual seria o modelo ideal de sistema político, na opinião de vocês?
Hajj: Um de nossos objetivos é a realização de um congresso nacional, que começa ainda este ano e termina em 2023. A ideia é realizar debates quinzenais específicos sobre os mais variados temas da vida social e religiosa em nossos Comitês para que este acúmulo teórico, de ideias e posicionamentos componha um documento final que vai definir, entre outras coisas, o modelo de sistema político que vamos defender. Então, não há um posicionamento oficial, ainda. De qualquer maneira, podemos dizer que, considerando nossas origens e a coerência que buscamos manter com os ensinamentos islâmicos, o modelo que defendemos é de ampla participação popular, de ampliação dos canais de debate e de inserção do povo na vida política. Um modelo que garanta a representatividade efetiva de todas e todos, respeitando e observando as diferenças relacionadas a gênero, raça e, principalmente, classe. Para nós, é imprescindível que a classe trabalhadora tenha uma representação proporcional ao seu tamanho.