Pesquisa mapeia novos grupos que abordam reforma política no país

Em 2019, a Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma do Sistema Político lançou um edital de apoio a atividades autogestionadas de formação para estimular e se aproximar de organizações, movimentos, coletivos e ativistas de todo o país interessados em realizar ações sobre os temas relacionados à reforma do sistema político. Durante o processo, foram recebidas mais de cem propostas e, destas, 60 foram selecionadas e financiadas. Os debates construídos contribuirão para a versão 3 da Plataforma – que pretende atualizar as formulações da sociedade civil sobre o assunto.

Para compreender melhor o universo de organizações emergentes que se identificaram com o edital, no sentido de mapear quem está se organizando hoje em torno de temáticas próximas à Plataforma, os pesquisadores Ana Claudia Teixeira, Larissa Melo e André Toledo, do Núcleo de pesquisa em Participação, Movimentos Sociais e Ação Coletiva (Nepac), vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Unicamp, fizeram uma sistematização de todas as propostas recebidas (não apenas as contempladas financeiramente).

“Olhamos para este conjunto de pequenas organizações e coletivos no Brasil e procuramos refletir: quem está se organizando hoje em torno de temas próximos à Plataforma? De que forma e em torno de que pautas? Ao ler este material, fomos sistematizando três tipos de informações possíveis de ser retiradas desses projetos. Primeiro, informações sobre a localização territorial das organizações que fizeram a proposta. Segundo, sobre o perfil da organização ou coletivo. E por fim, dados sobre a proposta em si, tais como o público que pretendiam atingir e a metodologia que pretendiam utilizar”, explica Ana Claudia Teixeira, que também é professora colaboradora do Programa de pós-graduação em Ciência Política da Unicamp.

Na identificação das organizações, chamou a atenção dos pesquisadores o perfil e as pautas com as quais trabalham: a maioria atua nas regiões Nordeste e Sudeste, sem estrutura formal (sem CNPJ), recentes (40% delas foram fundadas nos últimos 5 anos), e que ainda não integravam a Plataforma. Sobre os temas de atuação, destacam-se mulheres, raça e juventude.

Territorialização e sub-representação

Outro elemento de destaque na pesquisa é o fato de a maior parte das ações terem sido voltadas para os territórios – o que, segundo os pesquisadores, pode ter relação com um fenômeno que tem sido chamado de “novas emergências”, ou seja, uma infinidade de pequenos coletivos e organizações, reunidos em grupos culturais, de mulheres, de negros e indígenas que buscam de alguma forma reunir ativistas em torno de causas e atuam ou querem atuar nesses territórios, fortalecendo pequenas iniciativas.

Sobre os públicos prioritários trabalhados nas ações autogestionadas, 42 propostas eram voltadas para as mulheres, sendo 16 voltadas a mulheres negras. Em seguida, o público das iniciativas era a juventude, com 25 propostas. Em terceiro lugar, moradores de bairros e comunidades periféricas.

“Isso tem tudo a ver com o tema da sub-representação. Mulheres, mulheres negras, jovens e comunidades periféricas são continuamente excluídos do sistema político e historicamente têm se organizado para ampliar os espaços de poder. Nessa mesma direção, chama a atenção que 9 propostas queriam agir na preparação para as eleições de 2020”, avalia.

Desafios

Entre os temas mais citados para abordagem das atividades, estavam “mulheres nos espaços de poder”, “racismo e poder” e “poder político e juventude”. De outro lado, aqueles que tiverem menos menções foram: “direitos dos povos originários”, “esfera pública e digital”, “justiça popular”, “justiça formal e partidarização do sistema de justiça” e “poder comunal”. Para os pesquisadores, é provável que estes temas sejam menos debatidos na sociedade hoje em dia, reforçando o desafio da Plataforma em torno destes assuntos.

Segundo os pesquisadores, a sistematização pode servir como um pequeno mapa das necessidades organizativas destes grupos: que buscam formação para conhecer a realidade e para transformar subjetivamente as pessoas, mas também necessitam de recursos para melhorar sua organização interna e viabilizar maiores articulações em redes.

“Metodologicamente, nos chamou a atenção também a criatividade de alguns grupos. Como sugestão, seria interessante se a Plataforma divulgasse essas alternativas metodológicas, socializando essas práticas e estimulando-as para inspirar outros grupos”, finaliza Teixeira.

Confira aqui a pesquisa

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