Base de Alcântara: Brasil cede a Trump o melhor local do mundo para lançar satélites

Lu Sodré – Brasil de Fato

O que o governo Bolsonaro tem feito é uma coisa que está surpreendendo todo mundo. As coisas estão indo com rapidez, como se o governo fosse acabar amanhã. Falta um debate mais amplo. Não ouvimos falar que a comunidade científica brasileira pode opinar sobre isso.

Foi um acordo governo a governo, feito de uma maneira não transparente. Geralmente, quando esses acordos são feitos de maneira não transparente, geram dúvidas. Quais são as salvaguardas disso? Qual é o plano B se esse acordo der errado? Se amanhã o governo americano estabelecer vetos a usos de recursos e tecnologias, como o Brasil vai reagir? Realmente, é uma coisa que vai amarrar o desenvolvimento brasileiro.

Não vamos conseguir, nos marcos do capitalismo, desenvolvermos uma indústria aeroespacial que faça uma concorrência a indústria aeroespacial americana. E é uma pena, porque geograficamente estamos no melhor local do mundo para fazer lançamento desse tipo de satélite.

Podemos caracterizar essa política como “entreguista”?

Eu vejo dessa forma. É lógico que há um limite estrutural. A própria estrutura do Brasil não deixa fazer isso em 100% dos casos. Mas, nesse caso específico, do setor aeroespacial, vejo uma política de entrega do desenvolvimento, da elaboração de políticas públicas. Está se alienando essa possibilidade em prol de uma colaboração com uma potência estrangeira.

Os Estados Unidos são o país que mais tem bases ao redor do mundo. Essa localização de Alcântara, no Nordeste brasileiro, em frente à África Ocidental, é ideal para um projeto de dominação.

Existe uma competição geopolítica muito clara. Os últimos documentos do governo Trump mostram taxativamente que é uma política de Estado considerar a China e a Rússia como potências rivais, que querem minar a influência dos Estados Unidos no mundo. Então, dentro dessa lógica, eles concebem o continente americano como uma área de domínio exclusivo, área de sua preponderância exclusiva.

Ao posicionamento em Alcântara é fazer de uma maneira rápida, antes que algum outro governo tenha a ideia de fazer algum tipo de acordo parecido, como por exemplo, a China.

Infelizmente, em curto prazo é isso. Ainda vamos ouvir, inclusive de fontes governamentais, reclamação sobre o acesso de cientistas brasileiros aos dados de pesquisa, dos lançamentos que têm em Alcântara.

Os Estados Unidos podem até fazer um acordo de igual PARA igual com países que estão no mesmo nível tecnológico. Mas com um país que tem uma indústria aeroespacial que não decola por vários motivos, que tem um governo que não se preocupa em fortalecer a indústria, com esse tipo de país, os Estados Unidos vão fazer um acordo no qual eles serão a parte forte e vão impor sua visão em detrimento da nossa.

 

 

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