“É do DEM, que era PFL, foi PDS e Arena”: Davi Alcolumbre, o presidente do Senado

Cecília Figueiredo

 

Cecília Figueiredo

“É a velha Arena. A velha política com pretensão de roupagem nova, ou seja, nós voltamos a um governo dos militares, comandado pelos militares e o Congresso Nacional dominado pela antiga Arena [Aliança Renovadora Nacional]. Isso não pode dar bons resultados para o povo brasileiro”. Assim é como avalia a presidenta nacional do PT e deputada federal Gleisi Hoffmann (PR) sobre a eleição das duas Casas Legislativas.

Após a reeleição folgada de Rodrigo Maia (DEM) para presidir a mesa da Câmara Federal, no sábado (2), Davi Samuel Alcolumbre Tobelem (DEM-AP) foi eleito presidente do Senado, num conturbado pleito iniciado na sexta-feira (1º) e retomado na tarde do sábado (2). A votação teve direito à intervenção do Supremo Tribunal Federal (STF), renúncia do candidato Renan Calheiros (MDB) e suspeita de fraude.

Apoiado pelo ministro da Casa Civil, Davi Alcolumbre (DEM-AP) é chefe de Denise Veberling, esposa de Onyx Lorenzoni. Em cargo de confiança no gabinete de Alcolumbre desde 2016, a auxiliar parlamentar recebe salário de R$ 6,7 mil líquido.

Político de 41 anos, eleito senador em 2014, numa campanha que teve cerca de R$ 2 milhões em doações, sendo R$ 138 mil do grupo JBS, Alcolumbre não tem muitos projetos e, segundo alguns colegas, sua atuação é “muito apagada”. Desde fevereiro de 2015, discursou apenas sete vezes, conforme os registros oficiais. Em três oportunidades para defender o impeachment da então presidenta Dilma Rousseff (PT). Também foi um dos que apoiou a Reforma Trabalhista.

“Falava pouco, manifestava pouco suas posições, mas sempre se comportou como um homem de direita. Inclusive na ocupação da mesa [do Senado] que nós fizemos com as senadoras [em protesto] à votação da Reforma Trabalhista, ele foi um dos senadores que foi pra cima. Até com uma certa força física para tentar terminar com o movimento”, lembra Gleisi Hoffmann.

De acordo com a petista, o comportamento do senador sempre foi de direita. “Ele tem lado, que é o lado de servir aos interesses do dinheiro, do grande capital. Aliás, é muito triste ver a velha Arena tomando conta do Congresso novamente”. Segundo ela, “estão dadas as condições para o mercado implementar sua proposta, as reformas contra o povo”.

O deputado Federal Ivan Valente (PSOL-SP) corrobora com a posição da presidenta do PT. Numa postagem em sua conta no Twitter, no último sábado (2), ele afirmou: “Em 2017 votou contra a cassação de Aécio Neves [PSDB] no Conselho de Ética do Senado. Em outubro de 2017 votou a favor da manutenção do mandato do senador Aécio Neves. É do DEM, que era PFL, que já foi PDS e ARENA, base da Ditadura. Davi Alcolumbre, o ‘novo’ presidente do Senado.”

Para outros, trata-se de uma pessoa de “fino trato”. “Ele trata desde a copeira até o presidente da República exatamente igual. Sem distinção. Uma pessoa muito agradável, simpática, gentil. Eu nunca vi gritar com alguém ou de cara feia”, diz Carlos Hetzel, que está na assessoria do senador desde 2017, após ser exonerado da Liderança do PT no Senado.

Segundo Hetzel, o senador acolheu em “15 minutos” uma proposta orçada inicialmente em R$ 225 milhões, que consiste em iluminar e integrar as telecomunicações, por meio de cabos de fibra ótica de Tabatinga a Macapá, pelo leito do rio Amazonas. A proposta – PAIS (Projeto Amazônico de Integração Sustentável) – também incluiria a implantação de recursos de telecomunicação integradas à saúde, educação e segurança pública, interligando a região Pan-Amazônica. O projeto, que terá participação da iniciativa privada, segundo Hetzel “é do Estado” e estava há dois anos sendo apresentado sem sucesso a outros senadores.

“Conseguimos uma emenda [parlamentar] agora na LOA 2019 e vai caminhar, porque inclusive é um dos motes desse governo eleito, desenvolvimento e universalização da banda larga, principalmente em áreas remotas não atendidas pelas operadoras”, diz o advogado Hetzel, ao ressaltar que trata-se de uma pessoa que olha muito pelo Amapá.

Inquéritos e citações

De acordo com o site Congresso em Foco, o democrata responde ao inquérito nº 4353, por crimes eleitorais. Diogo Cabral, defensor dos Direitos Humanos do Maranhão, acrescentou no sábado (2), por meio de sua conta no Twitter, outro inquérito, o de nº 4677, por “crime contra a fé pública, uso de documento falso”.

“O presidente do Senado Federal”, ainda de acordo publicação do defensor maranhense, “é suspeito de “corrupção passiva na Operação Pororoca (2004), por fraude em licitações, em inquérito do Supremo Tribunal Federal. A investigação apura o desvio de R$ 103 milhões em obras públicas no Amapá”.

Segundo o Congresso em Foco, “nem o senador nem o seu gabinete se manifestaram sobre o assunto.”

Firmeza e mobilização

Hoffmann disse que o cenário exigirá da esquerda uma postura muito firme no Parlamento e nas ruas. “Principalmente nas denúncias de manobras regimentais, redução de debates sobre as propostas e uma postura de mobilização social. Só tem um jeito de barrar as reformas contra o povo, é ter gente na rua”, reitera.

Posicionamentos de conteúdos na Câmara e Senado, interlocução com os movimentos populares, fortalecimento do Observatório da Democracia, são algumas das medidas que estão em andamento, segundo a petista. “Interlocução direta com os movimentos sociais, a Frente Brasil Popular, a Frente Povo Sem Medo, enfim, com todas as forças progressistas da sociedade”.

Edição: Vivian Fernandes

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