Os sussurros resistentes de novembro

 

Iyalê Tahyrine

A arte-ato de conspirar não é um ato recente, ela foi marcante em diversos episódios importantes da nossa história, tais como a Revolta dos Malês de 1835 na qual 1.500 negros escravizados e libertos conspiraram juntamente à quituteira Luiza Mahin planos de revolta contra a escravidão.

Durante os três séculos de escravidão no Brasil, quando o açoite e a chibata falavam mais alto, foi necessário construir a uma resistência quase silenciosa para garantir a eficiência das fugas, rebeliões, paradas na produção e aquilombamentos. Conspirar foi preciso.

Conspirar continuou sendo preciso quando a abolição veio mas não se completou e o culto aos Orixás era um crime que conduzia ou ao xadrez ou ao hospício, e a capoeira aquele jogo-dança-luta de “vadios” também era vista como crime. Então foram criados mecanismos vários para burlar o racismo institucional e a criminalização que agia sobre aquilo que fincava os pés nas raízes negras que constituíram e construíram (em muitos casos literalmente) nosso país.

Agora estamos vivenciando novembro, o mês em que Zumbi dos Palmares é relembrado por sua coragem, garra e resistência. O mês de ressaltar a importância de uma consciência negra que se construiu a partir de diversas experiências coletivas de resistência diante de uma história repleta de enfrentamentos, cerceamentos, exploração e opressão.

Neste momento pós 28 de outubro estamos falando muito na palavra resistência, que se faz necessário evidentemente, mas não é preciso inventar a roda para resistir aos tempos difíceis que virão. Como já disse, estamos em novembro, olhemos a história do nosso povo, prestemos mais atenção em Palmares e Canudos, há vozes que nos sussurram aprendizados valiosos sobre comunhão, coragem e coletividade.

Olhemos para o povo negro desse país que em outrora escravizado é hoje profundamente explorado e oprimido durante o ano inteiro, inclusive em novembro. Mas resiste à labuta exaustiva com salário ínfimos, à invisibilidade, à dor de perder seus filhos que por vezes são confundidos com “bandidos”, à angustia de ter sua fé demonizada e de vivenciar tantas outras atrocidades que essa sociedade estruturalmente racista nos impele.

É tempo de nos inspirar nos ventos resistentes desse novembro negro e acreditar que é possível construir coletivamente um novo amanhã, como Mahin falou.

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