O papel das mulheres como candidatas nas eleições de 2018

Carol Castro

Num bar na rua Augusta, em São Paulo, cinco deputadas esperavam sentadas por qualquer pessoa. A frente de cada uma delas, outra cadeira. Queriam dialogar e mostrar que política não é “uma coisa muito pesada” para elas.

“Sempre dizem que política não é lugar para mulher. Precisamos mudar essa visão coletiva: mulheres podem sim ocupar os espaços de poder”, defende Marina Helou, candidata a deputada estadual pela Rede e idealizadora do #VoteNelas, movimento para eleger mais mulheres.

Elas ainda representam uma pequena parcela do total de candidatos em disputa nas eleições deste ano. Juntas às outras mulheres candidatas, somam 30,7% do total de concorrentes – num país em que 52% do eleitorado é feminino. É um número ainda mais baixo do que em 2014, quando chegaram a 31,1%. Uma queda curiosa já que, pela primeira vez, as regras do Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC) exigem que 30% dessa verba sejam destinadas às candidaturas femininas, numa tentativa de estimular a presença feminina na política.

O problema é que não funcionou tão bem assim. A quantidade de candidatas não apenas diminuiu (pouco, mas diminuiu), como elas também perderam protagonismo. São quatro mulheres na disputa pela vice-presidência e outras 73 em busca do cargo de vice-governadora. É mais do que nas eleições de 2014 – quando havia 47 candidatas a vice em chapas para os governos estaduais – e um empate no número de mulheres vices à Presidência.

Só que nas eleições anteriores, três mulheres concorriam como cabeça de chapa na disputa pela Presidência. E duas delas despontavam entre as favoritas – Dilma Rousseff e Marina Silva. Luciana Genro, candidata do PSOL naquele ano, ainda que não tivesse muita relevância nas pesquisas, também comparecia aos debates e campanhas. Em 2018, a voz feminina de Marina Silva ecoa sozinha nos debates televisivos, em meio a outros tantos homens – jornalistas e presidenciáveis.

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Ainda precisamos falar sobre as mulheres na política

“A posição das mulheres de 2014 para cá não melhorou em termos políticos. Agora as mulheres aparecem como vice porque pega bem, feminismo está na moda”, explica a cientista política Céli Pinto, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. “Por um lado é bom. Por outro, mulheres que tinham papel muito importante na Câmara dos Deputados perdem esse espaço para sair como vice. É o caso da Jô Moraes, deputada federal de Minas Gerais, que virou candidata a vice-governadora”, completa.

As candidatas a governadora até apareceram mais neste ano – o número de postulantes ao cargo subiu de 20 para 29 as mulheres. No entanto, só duas delas aparecem como protagonistas – Roseana Sarney (MDB-MA) e Fatima Bezerra (PT-RN). E só a última tem chances reais de levar a melhor nas urnas.

Outras 20 candidatas não chegam nem aos 5% de intenções de voto. “Parece algo como uma reação para manter os espaços predominantemente masculinos. Se colocam candidaturas mais fracas e investem menos nelas. Cumprem a regra e elas não vencem. Pode ser uma contrarreação”, aposta Polianna Ferreira Santos, advogada e diretora-presidente da Associação Visibilidade Feminina.

Muitas eleitoras, poucas mulheres eleitas

A baixa participação das mulheres nos cargos de poder não é nada nova, na verdade. Embora a mulherada domine o eleitorado (52% do total de eleitores no Brasil), poucas mulheres vencem as eleições. Desde 2014, elas ocupam só 16% das cadeiras no Senado e 10,5% na Câmara Federal. Quando se trata de representatividade feminina no Congresso, o Brasil perde para 151 países, entre eles Burkina Faso e Síria.

Não é por falta de vontade. Ou de confiança. Segundo pesquisa da Agência Patrícia Galvão, realizada em 2009, nove em cada 10 brasileiros dizem que votariam em mulheres. “Isso mostra que as pessoas não votam em mulheres porque elas estão invisíveis. Pergunta para qualquer candidata se elas não sofrem nos partidos”, questiona Pinto. “[A política] É um jogo cruel de homens brancos ricos. E nosso formato de campanha só favorece esses mesmos caras. Temos de ocupar esses espaços”, confirma Aline Torres, candidata a deputada federal pelo PSDB.

 

Uma das saídas propostas por pesquisadores e ativistas para acabar com a hegemonia masculina nas tomadas de poder é adotar sistemas de lista fechada. Na Argentina, por exemplo, o partido escolhe seus candidatos e os coloca em ordem, com alternância de gênero. Se a sigla conquistar votos suficientes para empossar quatro deputados, dois serão homens e outras duas mulheres.

Não é só uma questão de eleger mulheres só por eleger. Elas trazem (ou precisam trazer) pautas que fazem mais parte do mundo delas – que homens dificilmente trarão por simplesmente não viver aquilo. “Algumas questões são muito específicas, como legislação do parto humanizado, absorvente na cesta básica, prioridade no combate à violência. Além disso, diversidade traz melhores resultados para empresas e fortalece a democracia. Estudos já demonstraram isso”, explica Helou. “Precisamos das melhores pessoas na política. Quando excluímos metade da população, excluímos também metade [ou mais ou menos] das melhores pessoas”.

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