Mortes em chacinas cresceram 128% com intervenção no Rio, diz estudo

Veronica Lugarini

A intervenção federal no Rio de Janeiro completou cinco meses em julho e continua mostrando a que veio. Crescimento de tiroteios, de assaltos, chacinas e de mortes comprovam a ineficiência de uma decisão tomada às pressas, sem planejamento.

“Muito tiroteio, pouca inteligência” é a definição do relatório do Observatório da Intervenção realizado pelo Centro de Estudos de Segurança e Cidadania da Universidade Cândido Mendes e divulgado nesta segunda-feira (16).

Para o Observatório, “o Rio de Janeiro não tem o que celebrar no dia que marca cinco meses da intervenção federal na segurança”. Os números ratificam o resultado negativo da intervenção e apontam que quanto maior o tempo em vigor, maior será a violência, principalmente para a população que vive nas comunidades do Rio.

Segundo o relatório, as chacinas aumentaram 80% e as mortes em chacinas (três pessoas mortas na mesma ação ou mais) foram 128% maiores. Já os tiroteios e disparos cresceram 37% nos cinco primeiros meses de intervenção, ultrapassando a marca dos 4.000.

Um aumento drástico para uma intervenção que pretendia levar segurança aos cariocas. De acordo com o Observatório, as práticas violentas da polícia continuam a dominar as operações em territórios específicos, as favelas e resultam em medo, mortes e frequentes violações de direitos por parte das forças de segurança.

“O terror causado por atiradores, inclusive em helicópteros. Apesar de anúncios diários de operações com milhares de militares e policiais, os resultados são pífios. Foram apreendidos menos fuzis, metralhadoras e submetralhadoras durante os meses de intervenção (92) do que no mesmo período de 2017 (145)”, ressalta o texto.

Alguns resultados não numéricos, mas tão desastrosos quanto, conseguem furar o bloqueio da invisibilidade e virem à tona na imprensa. Esse é o caso da morte do estudante Marcos Vinicius da Silva, de apenas 14 anos, que seguia uniformizado para a escola quando foi atingido por uma bala durante operação policial na Maré. O uniforme de Marcos Vinicius, sujo de sangue, se tornou um símbolo das vítimas da intervenção.


Violações na Cidade Deus

Não muito distante da Maré, violações de direitos humanos são comuns na Cidade de Deus. “Há indicações de que violações de direitos por forças de segurança estão aumentando à medida que as operações se multiplicam”, afirma o Observatório.

De acordo com o Defezap e o monitoramento do Observatório, as violações também têm aumentado principalmente na Cidade de Deus, onde há relatos de arrombamentos na comunidade. Na noite de 29 de junho, houve um caso de espancamento, gravado por moradores. Em seguida, no dia 11 de julho, uma página de rede social da CDD publicou as fotos de um morador surrado por policiais do Bope. Segundo o Observatório, os agentes haviam ocupado a laje da sua casa. Quando o morador pediu que saíssem, reagiram com pauladas.

Ausência de informações de operações


Outro problema citado pelo Observatório é o crescimento de lacunas de dados sobre as operações divulgadas, como efetivo utilizado e prisões. O número de informações ausentes foi de 19 no primeiro mês da intervenção (fevereiro) para 203 cinco meses depois, em junho. Ou seja, os dados omitidos aumentaram enquanto os resultados continuam sendo avaliados como negativos.

Para a entidade, esse quadro de violência que se agravou com a intervenção só poderia melhorar com a adoção de estratégias consistentes de investigação baseadas em inteligência.

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