Eleição no Tocantins, uma janela para o desalento dos eleitores brasileiros

 

Gil Alessi

 

Quase metade dos eleitores do Tocantins não quis escolher quem será o governador do Estado no pleito realizado neste domingo. A eleição suplementar foi convocada depois que o ex-governador Marcelo Miranda (MDB) e sua vice, Cláudia Lelis (PV), tiveram o mandato cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral em 22 de março deste ano por arrecadação ilícita de recursos em 2014. Terminada a apuração, por volta das 21h, emergiram das urnas 137.537 votos brancos e nulos (19% do total). Somados às abstenções, que foram de 30%, quase 50% dos tocantinenses aptos a votar optaram por ignorar os candidatos – em 2014 esse número foi de 30% do eleitorado, ou pouco mais de 293.000 pessoas, ante cerca de 444.000 eleitores este ano.

 

Agora, o segundo turno será disputado em 24 de junho por Mauro Carlesse (PHS), governador interino e deputado estadual licenciado, e o ex-senador Vicentinho Alves (PR), que receberam respectivamente 30% e 22% dos votos válidos. Ambos são ligados ao agronegócio. O vencedor ficará no palácio Araguaia até 31 de dezembro e poderá concorrer à reeleição no pleito geral em outubro. Ficaram fora do páreo o prefeito licenciado de Palmas, Carlos Amastha (PSB), a senadora e ex-ministra de Dilma Rousseff, Kátia Abreu (PDT), e o idealizador da lei Ficha Limpa, Marlon Reis (Rede). Eles tiveram 21,4%, 15,6% e 9,9% dos votos, respectivamente. Por fim, os votos do psolista Mário Lúcio Avelar não foram computados pelo Tribunal Regional Eleitoral, uma vez que sua a candidatura é alvo de questionamento na Justiça.

Para especialistas, o resultado da eleição é um sinal da crise de representatividade pela qual passa a democracia brasileira, e cujos sinais já podem ser sentidos para além do Tocantins. O diretor do Instituto Datafolha, Mauro Paulino, afirma que os resultados das eleições no Estado “confirmam uma tendência que nós já estamos captando a alguns anos, que é o aumento do eleitor que não se sente representado nem pelos partidos nem pela oferta de candidatos a cargos públicos”.

De acordo com ele, esta crise de representatividade vem desde junho de 2013, quando ocorreram os protestos multitudinários contra o aumento das passagens e que se ampliaram para um descontentamento geral com a classe política. “Atualmente quando fazemos pesquisa para intenção de voto para a presidência da República, encontramos taxas recordes de brancos e nulos, além de um número grande de eleitores sem candidato. É um reflexo do momento que o país atravessa, há um desalento e desesperança do eleitor muito forte”, afirma.

O impacto desta desilusão dos brasileiros com o sistema político já é perceptível também na corrida rumo ao Planalto. O índice de brancos e nulos atualmente varia entre 18% e 30% do eleitorado, segundo a pesquisa CNT/MDA divulgada em 14 de maio. Os maiores índices são nos cenários sem o ex-presidente Lula, preso na superintendência da Polícia Federal em Curitiba desde abril deste ano. Isso expõe mais uma faceta da crise de representatividade que o país atravessa: o líder de intenções de voto até o momento deve não disputar a eleição. “Com a saída do Lula a principal característica que o eleitorado apresenta é o aumento da taxa de brancos e nulos, que chega a 30%, maior que os 20% do Bolsonaro que assumiria a liderança nas pesquisas”, diz Paulino, do Datafolha.

O professor de Ética e Política da Universidade de Campinas Roberto Romano, afirma que é preciso ter clareza de que as eleições no Tocantins são “excepcionais”, tendo em vista o curto tempo do mandato, o que pode ter provocado pouco interesse. “Mas apesar deste fator, é inegável que os sinais apresentados por este pleito são muito complicados: o cotidiano da vida política se cristalizou em um divórcio entre a população eu paga impostos e seus governantes”, diz Romano. Segundo ele, em outubro teremos uma onde “o eleito não galvanizará uma maioria de votos para chegar ao Planalto com condições para negociar com o Congresso”, o que agravará ainda mais a situação.

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