“A realização do  FSM em território  brasileiro fortalece as diferentes lutas de resistências que temos”

 

As vésperas do Fórum Social Mundial que será realizado em Salvador, entre os dias 13 e 16 de março, a Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma Política entrevistou José Antonio Moroni.

José Antonio Moroni é formado em Filosofia, tem pós-graduação em História do Brasil, Fundamentos em Educação Especial e Métodos e Técnicas de Elaboração de Projetos Sociais. Moroni atua com mais ênfase nos temas reforma política, participação popular e poder público, assistência social, criança e adolescente e direitos humanos. Integra a Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma do Sistema Político.

Qual a importância do FSM 2018 no contexto de retrocessos em que o Brasil está vivenciando e, na sua avaliação, o que pode representar o Fórum para o fortalecimento da resistência das organizações e movimentos sociais no Brasil?

O mundo passa por um momento delicado. Esta onda conservadora que vivemos não é só no Brasil, mas no mundo. Tivemos um  breve “suspiro progressista”  onde  parecia que os valores democráticos, de respeito a diversidade, de fortalecimento do multilateralismo nas relações entre os países iria prevalecer. Mas  foi apenas um suspiro. O que vemos é o fortalecimento do conservadorismo na política, nos valores e na própria construção das relações entre as pessoas, entre os povos e nações. No caso brasileiro este cenário se agrava a cada dia. Vivemos um golpe que  se aprofunda. Um golpe que não foi apenas de retirar do poder um governo legitimamente eleito, mas um  golpe que esta destruindo as bases, mínimas, que conseguimos construir nas  ultimas décadas na direção de uma sociedade e   país soberano, livre, democrático e igualitário. Neste sentido só o fato da  realização do  FSM novamente em território  brasileiro é um fato que  fortalece as diferentes lutas de  resistências que temos.  Realizar o fórum num país que esta vivendo um golpe já é uma conquista. O Fórum é um momento de diálogos entre diferentes lutas e  os sujeitos que constroem estas lutas. Ter uma semana, esta diversidade de lutas e sujeitos, reunidos tem um potencial enorme no sentido de romper um certo isolacionismo que estamos  vivendo.

Como o tema da Reforma Política será inserido nos debates de FSM 2018 e quais as articulações/atividades/debates  a Plataforma estará inserida?


O tema da reforma do sistema político, entendido como as diferentes formas que se tem ou não se tem de exercer o poder, associado a questão de numa sociedade estruturada nas desigualdades onde o  poder reflete e ao mesmo tempo reproduz estas desigualdades tem relação com todo o debate que se faz no fórum. No fórum tem um eixo sobre a questão democrática e é neste eixo que o debate sobre a reforma do sistema político vai estar se processando de  forma mais intensa. Mas o debate de todos os  eixos tem relação direta com a questão do exercício do poder, portanto com a reforma.  Nós da plataforma mais do que estar promovendo atividades vamos estar inseridas nos diferentes espaços para pautar o tema e principalmente para  fazer as relações do que esta sendo discutido com a centralidade que a luta pela reforma  política deve ter.  Vamos estar organizando com outras diferentes plataformas, um debate sobre a possibilidade de convocação de  referendos  revogatórios para as medidas antídoto do  Temer.  Esta   estratégia tem relação direta com o que defendemos que é o povo tem o direito dele próprio decidir as grandes questões e não via procuração para um  representante.

Na sua avaliação o FSM 2018 pode ser um marco de um processo de rearticulação do campo progressista, democrático e popular em um ano também marcado pelos desafios eleitorais?


Este processo de  rearticulação do campo popular é um processo longo e que de certa forma já  em andamento com a  criação das  frentes,  Brasil Popular e Povo sem medo. Mas avalio que não é suficiente apenas rearticular o campo é preciso dialogar além do campo. Precisamos chegar onde não conseguimos mais chegar, que são as grandes periferias urbanas, quem tem a luta pela subsistência e existência ameaçada com os retrocessos e as camadas médias da população. Isso envolve repensar o discurso, as praticas, os processos dialógicos, as propostas e principalmente uma nova postura diante da politica e dos diferentes sujeitos. Algo mais horizontal, menos  vertical, menos comando e mais dialogo. O fórum pode contribuir com isso, mas este processo não vai se esgotar na semana que vamos estar em Salv

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