Ato-show por Diretas Já atrai 100 mil manifestantes em São Paulo

Uma multidão de artistas, sindicalistas, militantes e cidadãos uniram-se neste domingo 4 no Largo da Batata, em São Paulo, para pedir a saída de Michel Temer e a realização de eleições diretas para a escolha de seu sucessor. Segundo estimativa da PM no local, o ato-show reuniu cerca de 100 mil manifestantes.

Organizado por artistas e pelo produtor musical Daniel Ganjaman, o ato contou com apresentações de nomes de peso como Chico César, Tulipa Ruiz, Péricles, Criolo e Mano Brown. Participaram também da manifestação diversos blocos de carnaval da cidade, além de integrantes de partidos como o PT e o PSOL, de movimentos sociais, de sindicatos e das frentes Povo sem Medo e Brasil Popular.

Com grande presença do público e dos manifestantes, a apresentação do rapper Mano Brown encerrou o ato político-musical de forma apoteótica. “Há um motivo muito maior que nós nessa noite: Diretas Já”, declarou o rapper, antes de iniciar a rima de “Diário de um Detento”, maior sucesso do grupo Racionais MC’s. (assista ao vídeo abaixo)

Em discurso no palco, Mano Brown afirmou que ou “vamos juntos” ou “eles” vão continuar a mandar. “Se a maioria escolheu, assim será. Não era isso? A conta do trouxa é essa, a maioria manda. Mas se eles escolhem, eles mandam. O comandante não é mais meu, é dos caras, então vamos juntos. De repente, o comandante dos caras é o mais corrupto. foi pego com a mão na cumbuca, mano”, afirmou, em referência à gravação de Joesley Batista e Temer.

Primeiro artista a se apresentar, Chico César celebrou a união daqueles presentes ao ato. “Inclusive, há gente que equivocadamente trabalhou pelo impeachment, e agora de certa forma faz um mea culpa e vem, se junta ao povo”, diz, antes de lembrar do movimento original das Diretas Já, que levou milhões de brasileiros às ruas no fim da ditadura. “Eu estava me lembrando, há mais de 30 anos, no começo dos anos 1980, eu garotinho participando da luta por Diretas Já. De novo estamos aqui nas ruas, o Brasil quer votar, não aceita uma eleição indireta e quer escolher seu próximo presidente.”

Em sua apresentação, o rapper Emicida ressaltou que a luta contra o “sistema” não pode deixar de lado a periferia. “Democracia, população, a base somos nós como cidadãos. Temos que derrubar esse sistema da porra, que só serve pra nos destruir. E tem que derrubar não só aqui onde a bala é de borracha, mas lá nas bordas onde a bala é de verdade.”

O sambista Péricles saudou o engajamento da classe artística em favor das eleições diretas. “Eu acredito na mudança, chega desse negócio de ficar alheio à política, ao que acontece. A gente não está tomando rumo da nossa própria existência, da nossa vida. Chega disso.”

Outra artista que subiu ao palco do ato-show foi a cantora Tulipa Ruiz. A CartaCapital, ela alertou para a atual  “manipulação midiática” no País.

O cantor Otto afirmou que o objetivo do ato é restituir a democracia no Brasil. “Com essa assembleia e esses deputados e senadores, não dá. Ou o povo escolhe agora o seu, ou a gente está perdido nesse mar de lama podre do Brasil.”

A escritora Clara Averbuck lembrou as absurdas declarações de Temer a respeito do papel das mulheres na sociedade e a falta de representatividade delas no governo. “A gente precisa de diretas, precisa votar e derrubar esse governo golpista, que não tem mulher, que acha que a gente tem de saber o preço do supermercado, que trata mulher feito adereço. A gente precisa barrar essas reformas, precisa tirar esse homem do poder.”

Clara Averbuck
Foto: Caroline Oliveira

A advogada Eliane Dias, produtora de Mano Brown, disse que estamos em pleno golpe e na iminência de “perdermos todos os nossos direitos”. “Temos quase 100 anos de direitos do trabalho, tudo para perder em um ano? O povo tem que saber que quem manda em tudo isso aqui é ele.”

A atriz e cantora Elisa Lucinda comentou que a civilização que nos faz esquecer dos povos indígenas e dos negros “nos faz colher” o atual momento. “A coisa está péssima, é uma família de bandidos brancos no poder. Vale lembrar que não tem um negro na Lava Jato. Temos que ser abolicionistas contemporâneos. Nós (se referindo aos negros presentes como Emicida) falamos pela quebrada, por quem não é escutado.”

Paulo Miklos, ex-Titãs, afirmou que os manifestantes “querem decidir o próprio destino”. “Tomamos um golpe parlamentar e agora vivemos em uma ditadura parlamentar. Nós queremos resolver quem vai decidir o nosso futuro.”

criolo
Após se apresentar no ato das Diretas no Rio, Criolo também subiu ao palco em São Paulo (Foto: Victória Damasceno)

Além de artistas, o ato contou com a presença de intelectuais e líderes de movimentos sociais. A economista Laura Carvalho alertou para necessidade de o País libertar-se do “parlamentarismo de ocasião”. “Só vamos resolver isso indo às urnas, não interessa qual é o seu partido, quem é o seu candidato, o que interessa é voltar a ter democracia, e, se possível, uma nova democracia, com mais direitos e não com menos.”

Guilherme Boulos, Coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto e colunista de CartaCapital, afirmou que as Diretas são a única bandeira democrática para o País sair da crise. “O Congresso não tem moral para pedir eleições indiretas. Diretas Já é a saída capaz de mudar o governo e a agenda política. Ninguém votou em reforma da Previdência, corte de gastos por 20 anos.”

Ele entende que a antecipação de eleições é possível.”Há uma PEC (das Diretas) tramitando no senado. Há caminhos constitucionais. Está na mão das ruas a gente ter essa força necessária.”

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