A maioria da população empobrecida financeiramente não saiu às ruas em defesa de seus direitos.Por Marcel Farah
A participação social foi uma bandeira dos governos federais petistas nos últimos 13 anos.
Neste período houve enorme crescimento do número de atividades e estruturas voltadas para a participação social. Foram realizadas centenas de conferências de políticas públicas e constituídos dezenas de conselhos nacionais. A ideia era permitir a participação cada vez maior de setores historicamente excluídos da formulação e acompanhamento das políticas públicas.
Mesmo assim, foi o sentimento de falta de participação social que motivou as maiores mobilizações de rua da história recente em 2013. Naquele ano, já havia 10 anos de governos federais petistas e a criação dos espaços citados não fizera diferenças concretas na percepção da população.
As manifestações de 2013 surgiram a partir de demandas legítimas do movimento passe livre e em protesto contra a violência das polícias estaduais, contudo, foram disputadas/deturpadas ferozmente pelos meios de comunicação empresariais para se tornarem manifestações marcadamente contra o governo petista.
O aparelhamento das manifestações por movimentos com o MBL financiado pelo setor empresarial, provocou a transformação daqueles protestos em passeios da classe média, posando com a polícia que espancou os jovens de 2013, e sob o manto da luta contra a corrupção, o que na realidade representava a insatisfação com o resultado eleitoral de 2014.
Tudo isso culminou com grandes passeatas em 2015 e com o golpe parlamentar/midiático de 2016, que completou um ano essa semana, dia 17 de abril.
Em contraposição a isso, a maioria da população empobrecida financeiramente não saiu às ruas em defesa de seus direitos, ou da participação social. Quem se mobilizou em defesa da democracia foi a parcela da população “organizada” em movimentos sociais e frentes de esquerda.
Segundo a pesquisa recentemente publicada pela Fundação Perseu Abramo, “Percepções e valores políticos nas periferias de São Paulo”[1], a “formulação acerca da política não é prioridade no cotidiano” de quem reside nas periferias. Podemos estender esta característica ao cotidiano da maioria esmagadora da classe trabalhadora brasileira, que tem uma “rotina agitada e sufocante” devido ao fato de receber salários insuficientes para seu sustento e de sua família, com jornadas diárias reais que inviabilizam, entre outras coisas, a participação política.
Ou seja, os esforços de fortalecimento da participação social dos governos petistas fracassaram. Por um lado foram criados espaços dos quais a população não participou. Por outro, não houve mudança no mundo do trabalho que permitisse à classe trabalhadora dispor de tempo para participar.
A instituição de estruturas sem o correspondente crescimento de forças instituintes é insustentável.
Hoje temos a oportunidade de pensar a participação social integrada às demandas de melhoria da vida da classe trabalhadora e todos os seus segmentos subalternos como as mulheres, negras e negros, LGBTTT, pessoas com deficiência, povos e comunidades tradicionais, indígenas.
Daí a importância de espaços de debate e formulação como o seminário que foi promovido pela Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma política nos últimos dias 17 a 19 de abril de 2017, com a participação de diversas entidades de todo o Brasil, intitulado “A democracia que queremos”[2].
A principal mensagem dos debates deste encontro é que além de definir qual democracia queremos, temos que pensar qual o caminho para construí-la. Este caminho passa pelo trabalho educacional e cultural de base, como contraponto à hegemonia dos “donos” da opinião pública, fortalecendo as forças instituintes da democracia que queremos.