Quem nos representa?

30 de março de 2016 | Rodrigo de Medeiros SilvaCrise de representatividade no país

O filósofo Jean-Jacques Rousseau, no séc. XVII, já afirmava:

“O povo inglês pensa ser livre; está muito enganado, pois só o é durante a eleição dos membros do parlamento; tão logo estes são eleitos, ele é escravo, é nada”.

Esta conhecida assertiva cabe bem aos nossos dias. Em 2013/2014, foram vistos diversos cartazes escritos “não me representa”, nas várias manifestações de rua. Já em 2016, tem-se a polêmica com o pedido de impeachment da Presidenta da República, feito pela Ordem dos Advogados do Brasil-OAB.
Há um consenso que existe uma crise de representatividade no país. Todavia, não há uniformidade sobre o que fazer, a partir desta constatação. Este problema não é de hoje e só se agrava. Nossa Constituição afirma que o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente (§ único, do art. 1º, da CF).
Mas a própria Constituição torna falacioso este dispositivo, quando diz que mecanismos de democracia direta, como plebiscito e referendo, dependem de autorização do Congresso Nacional (art. 49, XV, da CF). Ao se verificar a Lei nº 9.709/1998, que trata do plebiscito, do referendo e da iniciativa popular, se percebe a dificuldade que é exercer a democracia direta no Brasil.
lutas sociais Quando surgiu o tímido Decreto nº 8.243/2014, que instituiu a Política Nacional de Participação Social – PNPS e o Sistema Nacional de Participação Social – SNPS, houve grande resistência dos setores mais conservadores do país. Tímido, porque instituía esta participação, predominantemente, de forma consultiva. Saiu da pauta política, sem a maior parte da população entender sobre do que se tratava.
Existe um distanciamento dos representantes de seus representados. Aqueles assumem os mandatos e fazem coisas a revelia de quem representam e, até por vezes, contrárias às funções que devem exercer. Exemplo claro disto, foi o episódio do pedido de impeachment da Presidenta feito pela OAB.
As redes sociais demonstraram um racha de posições a favor e contra dentro deste segmento profissional. As manifestações nas sedes das seccionais da OAB e o protesto que recebeu os representantes da Ordem no Congresso Nacional, também expuseram a insatisfação de boa parcela da classe.
Quem acompanha as eleições da OAB sabe que, infelizmente, gira muito entorno de questões corporativas. Vale ressaltar que algumas delas são de importância para a democracia, como a defesa das prerrogativas. A quebra do sigilo profissional de 25 advogados pela “Operação Lava jato”, por exemplo, é uma violação de prerrogativas. Mas enfim, não se debate grandes pautas da política nacional.

Mãos para cima

Defesa do Estado Democrático de Direito

Isto é de se lamentar, tendo em vista que a OAB tem o dever de defesa da Constituição, do Estado democrático de direito, dos direitos humanos e da justiça social, por exemplo (art. 44, I, da Lei nº 8.906/1994). Será que parte dos advogados e advogadas, que votaram nesta atual constituição da OAB, participariam das eleições da mesma forma, se soubessem que levariam a instituição a pedir o impeachment? Os episódios dos últimos dias põe em dúvida isto. Não só o bom senso, mas o respeito à categoria, impeliria os representantes a ouvirem os representados em questão de tal magnitude, que não foi centro do debate de suas eleições.

O que se espera de uma Instituição, que tenha como papel a defesa da Constituição e do Estado democrático de direito, é que não os violem. Dessa maneira, deve se ter o maior cuidado para que isto não seja posto em questão. No episódio do impeachment, parece que este cuidado não foi tomado.

Não se defende e nem se aperfeiçoa a democracia passando por cima dela ou a limitando. A crise da democracia representativa, seja na OAB, no Legislativo ou no Executivo, não deve servir pra violá-la.
Importante aproveitar o momento para implantar efetivos mecanismos de democracia direta. O ordenamento jurídico sempre prevê o controle e a participação social. Mas a realidade sempre colocou em cheque o respeito a estes princípios. A reforma política é um caminho. Mas não pode ser feita por quem não deseja desconcentrar o poder.
Vive-se um momento de suma importância para a democracia brasileira. As instituições devem ter zelo por certas conquistas e coragem de se desencastelar, para que o país possa enfrentar os reais problemas que afligem a maior parte da população.

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