“Quando os mais afetados conseguem espaço e ganham voz para participar das decisões dos que fazem a política, ela tem muito mais chance de dar certo”, afirma Nathalie Beghin, coordenadora da Assessoria Política do Inesc, em entrevista ao blog Nova Ética Social, do G1. Nathalie participou no início de outubro da 42ª reunião anual do Comitê de Segurança Alimentar das Nações Unidas (CSA/ONU), em Roma, e destaca na entrevista a importância da participação social nos espaços de decisões governamentais – no Brasil e no exterior. O Brasil, aliás, é tido como referência na participação social, afirma Nathalie.
No entanto, há perigos para além da curva: temas relacionados aos direitos humanos têm sido relegados a um segundo plano, abrindo espaço para o que chama de “privatização das políticas públicas” (sobre este tema, leia aqui). E as grandes corporações do setor de alimentação estão ocupando um espaço cada vez maior nas discussões com suas “fórmulas mágicas” para combater a fome.
Um trecho da entrevista:
Qual a discussão mais forte do CSA hoje?
Nathalie Beghin – Agora, finalmente, o tema da nutrição entrou na agenda do CSA, o que para nós é uma grande conquista. Mas, como já expliquei, ele entra para o bem ou para o mal, as empresas já estão encontrando sua forma de lucrar com isso também. Porque todos continuam achando que segurança alimentar é só produção. E estamos há anos dizendo que uma pessoa não tem segurança alimentar se a nutrição dela não é de qualidade. Por isso é que introduzir a dimensão da nutrição no debate da segurança alimentar é uma luta muito antiga. No Brasil nós já ganhamos, mas lá fora não.
Explica melhor essa relação entre segurança alimentar e nutrição, por favor…
Nathalie Beghin – Os movimentos de base têm horror a esse conceito de segurança alimentar porque a resposta que foi dada pelos governos, nos anos 70, foi a Revolução Verde. Detectaram que o problema era fome, então a solução foi fazer pacotes tecnológicos para aumentar a produção, o que de fato aconteceu, multiplicou no mundo. Mas o problema do mundo, tanto naquela época quanto hoje, não é de produção, é de distribuição. Não falta alimento, falta dinheiro para comprar. E hoje o problema é o mesmo: o mundo produz mais alimentos do que o ser humano precisa em média para sobreviver.