Erika Kokai: “Nós vivemos um período complicado para a nossa democracia”

A  Deputada Federal, Érika Kokai (PT-DF), esteve presente na terceira mesa do Seminário sobre a Democratização do Sistema de Justiça, promovido pela JusDH e pela Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma Política, entre os dias 22 e 23 de junho, na Universidade de Brasília (UNB), tendo como temática o questionamento sobre o quê alimenta o conservadorismo no Poder Judiciário. Em sua fala, a deputada fez uma análise de que a sociedade brasileira está vivendo uma crise de valores, em que o conservadorismo está cada vez mais presente e operando para retirar conquistas históricas que incidem no reconhecimento de sujeitos de direitos. Vamos conferir a entrevista!

 

Deputada Érika Kokai,  no Seminário, você afirmou que a nossa sociedade está vivendo uma crise de valores e o conservadorismo está ganhando cada vez mais força no conjunto da sociedade. Nos explique essa conjuntura.

 

Estamos vivendo uma crise de valores. A sociedade, com a opressão midiática, a força do mercado e o fundamentalismo religioso, têm influenciado comportamentos. A cada dia que passa, tenho a certeza que ainda não fizemos o luto da ditadura, temos resquícios que está na alma do nosso país. O discurso conservador vem se tornando hegemônico, captulando desejos, e  atitudes.  Neste quadro, temos ainda uma sociedade que estimula o consumo, em que só se é gente a medida do seu poder de consumir, estamos vivendo uma ode a despersonalização, a desumanização.

 

Nessa sociedade cresce uma lógica fundamentalista? De que forma ela se expressa?

 

A lógica fundamentalista é algo crescente e que está contaminando as estruturas do Estado, e de forma mais intensa, no Congresso Nacional. Existe um processo no fundamentalismo que defende, de forma clara, o Deus das armas, a lógica repressora e encarceradora, como forma de resolução dos problemas da nossa sociedade, temos também o fundamentalismo patrimonialista, com a busca de acúmulo de bens e cada vez maior concentração de renda, e de um fundamentalismo patriarcal, que não reconhece a emancipação das mulheres e das novas formas de família e de amar. Essa lógica reflete no Judiciário, que tem nos dado mostra de um conservadorismo intenso e de uma lógica não garantista em vários momentos.

 

O discurso conservador está ganhando bases consolidadas no Estado e na sociedade?

 

O discurso constrói e azeita um tipo de sociedade, que no avanço conservador, se concentra no ódio e na intolerância. Nós nunca vimos tantas expressões de intolerância como estamos vendo nos últimos anos, nós não poderíamos imaginar que poderia acontecer o que aconteceu no Congresso na semana passada, quando a ordem do dia foi interrompida para uma oração. Temos que agir, de forma sistemática, contra esses discursos que tem tentáculos e todos os espaços, inclusive no Judiciário. Nós vivemos em um período problemático para a nossa democracia.

 

 

 

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