Durante quatro dias, os participantes debateram diretrizes de resistência contra o racismo religioso no Brasil
A Plataforma dos Movimentos Sociais por Outro Sistema Político somou-se aos mais de 500 povos de terreiros e 50 referências do movimento negro, entre os dias 13 e 16 de junho, na 3ª edição do EGBÉ – Encontro Nacional da Cultura de Povos de Matriz Africana, que aconteceu em Belo Horizonte (MG). O encontro foi um ato de resistência para manter viva a luta pela equidade racial no país, além de estabelecer que cada terreiro seja um espaço de memória cultural, ancestral, sendo um micro museu das heranças afro-brasileiras.
O tema “Nós Somos” foi alinhado com os das duas primeiras edições, cujos temas foram “Eu e o Outro” em 2019 e “Parte de Nós” em 2022. Este ano, a proposta do encontro teve como intuito, organizar ações fundamentadas na compreensão da complexidade do sistema social e político brasileiro. O encontro foi idealizado pelo Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afro-Brasileiro (Cenarab), sob a coordenação geral da Makota Celinha Gonçalves.
“O evento é importante para reunir mulheres, homens, empresas e instituições da sociedade civil que, juntas e juntos, sabem que é urgente demonstrar publicamente a potência da nossa existência para a construção de um futuro realmente igualitário e justo para todas as pessoas pretas do nosso país”, afirma a coordenadora.
A abertura do evento aconteceu, no Cine Theatro Brasil Vallourec, na Praça Sete, com a presença de lideranças religiosas, políticas e sociais. Após a abertura, o público participou da Conferência Magna “Do mar que nos separa à ponte que nos liga”, com mediação da presidenta do Nzinga-Coletivo de Mulheres Negras da PBH, Benilda Brito. A mesa foi composta por Sandra Manuel, que é membro do conselho editorial da revista Feminist Africa de Maputo; Dulce Pereira, atual assessora para as pautas de Mulheres Negras, Pobreza e Injustiça Ambiental do Ministério das Mulheres e da cineasta e antropóloga Sheila Walker.
Uma das estratégias destacadas no evento é a criação de redes de proteção, como o projeto Espaço Sagrado. Este projeto, desenvolvido pelo CENARAB em parceria com a Guarda Municipal e a Associação dos Defensores Públicos (ADEP), envolve a instalação de placas em terreiros indicando que são espaços sagrados protegidos.
“O projeto mapeou as pessoas da Guarda que são negras, de terreiros, congados e reinados, que têm uma tratativa diferenciada para as abordagens e que ajudam a combater a subnotificação de denúncias de intolerância religiosa”, explica Makota Celinha. Ações como esta são fundamentais para assegurar que as práticas culturais e religiosas de matriz africana sejam respeitadas e protegidas no Brasil.
O impacto do evento foi analisado pela antropóloga e integrante do Grupo de Referência (GR) da Plataforma dos Movimentos Sociais por Outro Sistema Político, Carmela Zigoni, como produtivo, uma vez que o Egbe discutiu as questões políticas do país em uma perspectiva de democratização dos espaços de poder, respeito à diversidade religiosa e também por um país livre de racismo e violência.
“Estes temas são alinhados aos valores da Plataforma, que defende a necessidade de discutir com a sociedade um sistema político realmente inclusivo e garantidor de direitos para todos, todas e todes”, afirmou Carmela Zigoni.