Representante Munduruku denuncia na Alemanha ataques à Amazônia e seus povos


Parte de uma série de agendas internacionais que representantes de povos indígenas brasileiros têm feito para denunciar o grave e crescente quadro de ameaças a seus territórios, violências e retirada de direitos, a guerreira do povo Munduruku na região do médio Tapajós (PA) e estudante de Direito da Universidade Federal do Oeste do Pará, Alessandra Korap, e o integrante do Fórum da Amazônia Oriental (FAOR) e da Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma do Sistema Político, Marquinho Mota, participam nesta semana, na Alemanha, de atos públicos e reuniões com autoridades, ativistas e políticos locais.

Durante a manifestação da Greve Global pelo Clima, realizada na última sexta (20) em Berlim, Alessandra falou para 270 mil pessoas sobre as consequências do avanço do capital, estimulado pelo governo federal, sobre a Amazônia brasileira e seus povos. “A nossa Amazônia vem sendo ameaçada com o garimpo, madeira, soja, carne bovina, mineração, barragens, ferrovias, hidrovia e portos graneleiros. O presidente do Brasil não gosta de índio, não gosto da floresta, não gosta de rios. Ele não quer mais demarcar o nosso território, ele quer vender para os Estados Unidos, ele está expulsando a gente da nossa casa para construir um projeto de morte, está nos envenenando com agrotóxico, mercúrio e lixo. A nossa Amazônia está queimando para fazer pasto, plantar soja para Europa, está em chamas para construir barragens e ferrovia, quer tirar o nosso bem viver. Por isso que vim de tão longe da minha casa, dos meus filhos e do meu povo para dizer que a luta é de todos nós”.

Na quarta (25), os brasileiros entregaram o protocolo de consulta prévia do povo Munduruku ao representante para o Brasil do Ministério de Relações Exteriores alemão. “Falei com ele sobre a questão da demarcação, de garimpo nas terras indígenas e da grilagem de terras, e de que forma queremos ser consultados sobre isso. Não é qualquer pessoa que pode entrar, que os outros países que quiserem entrar no nosso território sem consulta vão gerar conflito”, conta Alessandra.

“Raoni não está brincando”

O discurso do presidente Bolsonaro na abertura da 74a Assembleia Geral da ONU, na segunda-feira (23), tornou ainda mais explícita sua política anti-indígena. “A partir de 2019 a nossa situação ficou ainda mais difícil, porque tudo o que o presidente fala nos afeta diretamente: invasões de terras, megaempreendimentos, contaminação por mercúrio”, pontua Alessandra. Segundo ela, a repercussão do posicionamento do mandatário brasileiro em Nova Iorque, incluindo a fala desrespeitosa sobre o Cacique Raoni, indignou o povo alemão.

“A gente admira muito o Raoni, que está na luta desde a Constituinte para termos um pedaço de lei a favor dos povos indígenas. A gente sempre respeitou os sábios, que dão os ensinamentos que passam de geração em geração. A fala dele desrespeitou todos os povos indígenas. A queimada é verdadeira, e foi provocada por invasões causadas pelo próprio presidente. Raoni não está brincando”, completa.

As agendas dos representantes dos Munduruku na Alemanha continuam até o próximo domingo (29).

 


 

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