Desde o início da Lava Jato, a Odebrecht, maior empreiteira brasileira, já demitiu mais de 100 mil trabalhadores e colocou diversos ativos à venda. Pressionada, a empreiteira decidiu capitular e firmou o maior acordo de leniência da história, aceitando pagar uma multa de mais de R$ 7 bilhões e colocando 77 executivos para colaborar com a Justiça.
Com essa decisão radical, a empreiteira esperava virar a página e retomar suas atividades, com novos padrões de governança. No entanto, na era Temer, em que tudo tem sido feito para a “estancar a sangria” da Lava Jato, a construtora brasileira pode terminar como o grande bode expiatório desse processo.
Temer, como fica mais claro a cada dia, tem seguido à risca o roteiro traçado pelo senador Romero Jucá (PMDB-RR). Todos seus movimentos, como a indicação recente de Alexandre Moraes para o Supremo Tribunal Federal, visam conter os danos da Lava Jato e proteger a classe política. Ele próprio foi citado 43 vezes numa das delações e vários de seus ministros, como José Serra, Eliseu Padilha, Moreira Franco e Marcos Pereira, estão implicados nos esquemas de propinas, assim como fiadores importantes do golpe, como o senador Aécio Neves.
Caberia, portanto, ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, agir para conter esse resgate da base aliada conduzido por Temer, mas até agora poucos políticos foram denunciados ao Supremo Tribunal Federal. O movimento mais recente de Janot foi reunir procuradores de dez países da América Latina para que eles também criem forças-tarefa contra a Odebrecht – o que a Alemanha não fez no caso Siemens, nem a França no caso Alstom.
Segundo o colunista Jeferson Miola, o acordo de Janot com as procuradorias de países estrangeiros fere a soberania e prejudica interesses nacionais. Aliás, esse movimento acontece num momento em que o governo de Donald Trump pretende tornar sigilosas as atividades de empresas norte-americanas no exterior, o que indica que elas serão liberadas para pagar comissões políticas, fora dos Estados Unidos, como uma forma de ocupar mercados.
Recentemente, uma reportagem da revista Foreign Affairs retratou o Brasil como potência, justamente porque vinha sendo capaz de deslocar empresas norte-americanas e chinesas na África e na América Latina. O carro-chefe desse processo era a Odebrecht, que vem sendo banida do mapa, mesmo tendo feito seu acordo de leniência. Não se sabe quais serão os próximos passos de Janot, mas a realidade é que, até agora, Temer e seus aliados vêm conseguindo se safar e estancar a sangria – o que não se aplica aos já demitidos e aos que ainda serão demitidos pela Odebrecht.