Não ao retrocesso. Sim ao avanço na luta Política Eleições 2014 Não ao retrocesso. Sim ao avanço na luta

 

Em 2013 milhões de pessoas foram às ruas reivindicando mais direitos. Os slogans mais conhecidos que ficavam nos cartazes “Não é só por R$0,20 centavos”, “Saúde e Educação Padrão Fifa” mostravam como as chamadas Jornadas de Junho carregam em si elementos progressivos e de esquerda, pois lutavam por mais direitos.

Entretanto, como ocorre em manifestações de massa, haviam diversas contradições advindas das manifestações. O maior exemplo disso era o rechaço aos partidos políticos e aos movimentos sociais organizados nas manifestações.

No ano seguinte às manifestações, os protestos contra as remoções ocorridas por conta da Copa e das Olimpíadas ao invés de milhões, reuniu milhares. Mesmo assim, Movimentos Sociais como o MTST fizeram diversas manifestações mostrando o peso do movimento social organizado nesta conjuntura. Além disso, diversas greves sacudiram o segundo semestre de 2013 e o primeiro semestre de 2014. Em 2013, o número de greves alcançou seu maior número desde o período da redemocratização. Recentemente, a campanha por uma Constituinte Exclusiva para Reforma Política alcançou 7 milhões de votos.

Ou seja, uma análise mais crítica destes movimentos contraditórios mostravam uma disputa pela hegemonia no seio de nossa sociedade. Assim chegamos as eleições de 2014 e as primeiras análises de seus resultados nos permitem dizer como se deslocou essa hegemonia entre o campo progressista e o conservador. É isso que faremos, principalmente no estado de São Paulo.
O sentimento de descrédito da política e os anseios por mudanças que foram as ruas no ano passado refletiu nas urnas deste ano um avanço significativo do conservadorismo em especial no Estado de São Paulo.

As primeiras notícias sobre a composição da Câmara dos Deputados apontam para o Congresso mais conservador desde 1964. Ou seja, um Congresso repleto de membros das bancadas mais retrógradas do país como a da bala, a evangélica, a empresarial e a ruralista. Ou seja, o lado conservador presente nas manifestações. Somado a incapacidade do lado progressivo da sociedade presente nas manifestações em influenciar os milhões que não foram nas manifestações, mas concordavam com elas, teve reflexo nas urnas. Ainda levará um tempo para conseguirmos fazer uma leitura mais precisa do significado e as consequência desse avanço conservador sobretudo no debate sobre segurança pública, redução da maioridade penal, extermínio da juventude pobre, preta e periférica, mas é fundamental iniciarmos esse debate e articulamos formas de resistência.

De acordo com os estudos preliminares do DIAP (departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar) vemos um duplo movimento. De um lado, o crescimento de bancadas ligadas ao lado conservador e reacionário da sociedade. A bancada empresarial subiu para 190 deputados (quase 1/3 do Congresso). A bancada evangélica subiu para 74 deputados. Já a bancada ruralista terá 139 deputados. Por outro lado, a bancada sindical caiu de 83 para 47, uma queda de quase 50%! O menor número desde 1988 quando eram 44. Persistem, ainda, as clivagens de gênero e raça. Apenas 51 mulheres (cerca de 10%) e 100 afrodescendentes (cerca de 20%). Assim, de acordo com o DIAP, temos o Congresso mais conservador desde 1964! Essa configuração de forças abre a possibilidade de termos retrocessos em diversos temas como LGBT, direitos trabalhistas, direitos humanos e no próprio sistema político. A cereja do bolo pode ser a eleição de Aécio Neves, do PSDB. O candidato pode ser um catalisador para que o congresso conservador resulte em retrocessos!

Em São Paulo o deputado mais votado foi Celso Russomano. Um deputado historicamente ligado ao discurso midiático, sensacionalista, conservador e terá um papel de liderança na bancada evangélica. Ele teve mais de 1,5 milhões de votos. O segundo mais votado foi Tiririca com mais de 1 milhão de votos. Um voto de protesto que demonstra a incapacidade dos setores progressistas em disputar corações e mentes de setores expressivos das massas. Ainda elegemos Marcos Feliciano e um membro da Família Bolsonaro. A Bancada da bala que estava na câmara de vereadores de São Paulo, ganhou mandato na ALESP. Assim, o oficial da Rota e o maior expoente do discurso de repressão, Coronel Telhada, foi eleito para a ALESP.

São Paulo está entre os estados onde a Policia mais mata e tem a maior população carcerária do país, o atual governador reeleito foi um dos principais articuladores do projeto de lei que tentar reduzir a maioridade penal  e teve essa bandeira como umas das principais plataformas de sua campanha, além da eleição de uma expressiva bancada da bala formada por ex-policiais da chamada linha dura. O tema da segurança pública se mostrou extremamente relevante para uma parcela significativa da população paulista, o aumento de furtos de roubos, que muitas vezes está relacionada as dificuldades econômicas, combinado com uma construção cotidiana dos grandes meios de comunicação de um clima insegurança, da necessidade de se combater o inimigo e o  mal que assola a sociedade cai como uma luva para um  discurso que pense a segurança pública única e exclusivamente de forma repressora.

E muito difícil fazer esse dialogo no seio da população, mas é nosso papel estabelecer os limites dessa lógica que vem produzindo uma política desastrosa que vitimiza brutalmente a população mais pobre em especial a juventude negra. O voto com clivagem setorial mostra que é possível a emergência de novos atores políticos com influência de massas. Douglas Belchior e Tod Tomorrow tiveram mais de 10 mil votos numa campanha feita por militantes e que disputou votos de opinião e se inseriram na base social do movimento negro e do movimento LGBT!

Devemos estar preparados para irmos para a rua. Pressionar o congresso e os governantes será essencial para enfrentarmos o congresso conservador. Para tal, precisamos ter uma política definida: reforma política, desmilitarização da PM, criminalização da homofobia, aprovação da Lei João Nery, a moradia popular são importantes temas nacionais. Já em São Paulo, a luta por água, o fim da violência policial na periferia, as cotas nas faculdades estaduais são temas que podem ser elementos catalisadores para que os movimentos sociais entrem em cena como protagonistas no próximo ano. Por isso, estaremos nas ruas e nas lutas!

* Joselicio Junior, mais conhecido como Juninho é jornalista e militante do Círculo Palmarino

**Maykon Santos, professor e militante do Círculo Palmarino

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