Nesse aspecto, personagens como Jânio Quadros parecem ser os faróis de políticos que se pretendem inovadores. É possível ver a reprodução de suas atitudes de cunho proibicionista e moralista em diversas administrações municipais Brasil afora, assim como em projetos de parlamentares que buscam votos assegurando a defesa da “moral”. E o espectro do ex-presidente também ronda em outras paragens, inspirando um certo autoritarismo travestido de autossuficiência de políticos que pretendem se bastar, sem contar com apoios partidários sólidos e prescindindo de articulações com a sociedade civil.
A existência de figuras assim não chega a ser novidade e é comum em ambientes democráticos. O problema é quando existe um ideário que se baseia quase exclusivamente em proibições, em vez de tratar de regulações e de educação. E muitos acham que isso resolve uma série de questões, quando, na verdade, interdita os debates necessários sobre temas como o acesso das pessoas ao espaço público e o fracasso da política antidrogas. Os veículos de comunicação, em um cenário de concentração midiática, também não colaboram com as discussões que precisam ser feitas, ajudando a manter inalterado o status quo que favorece os de sempre.
Uma das razões pelas quais a sociedade aceita de forma quase passiva proibições e leis restritivas que atingem outros direitos reside no atual sistema político. Outros países precisaram enfrentar crises econômicas para reconhecerem a quase falência de suas estruturas representativas, nas quais os cidadãos não se veem contemplados. Aqui, os sinais são mais sutis, mas aparecem por todos os lados.
A agenda da reforma política é urgente e, sem ela, muito do esforço empreendido para dar solidez às instituições no período pós-redemocratização pode ter sido em vão. A onda proibitiva que periga virar moda na classe política só torna mais evidente essa realidade.
Fonte: Revista Fórum