Movimentos e organizações sociais da região Centro-Oeste participam de roda de conversa, organizada pela Plataforma, para debater conjuntura nacional e regional

Quais os caminhos para construir um novo sistema político? Quais direitos devem ser garantidos para fortalecer a democracia e contribuir para uma sociedade justa e inclusiva? Qual sistema eleitoral e político que nos representa? Essas foram algumas das reflexões que permearam a roda de conversa online, com movimentos e organizações sociais da região Centro-Oeste, organizada pela Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma do Sistema Político, nos dias 25 e 26 de junho de 2021. 

A dinâmica do encontro passou por um momento inicial de autocuidado e boas-vindas, com a participação da poetisa Mel Gonçalves. Dando prosseguimento, representantes dos movimentos e organizações sociais fizeram uma análise da conjuntura nacional, e em especial regional, no que diz respeito à atuação dos governos Federal, estaduais e municipais em vários aspectos, entre eles as ações de combate ao Covid-19. Nesse sentido, os depoimentos foram uníssonos: o descaso dos governos vem afetando especialmente a população negra, os povos originários e a população quilombola. 

Um dos sentimentos presentes durante os relatos do evento foi a solidariedade e pesar diante da perda de mais de 500 mil vidas no Brasil, por conta da pandemia de Covid-19. Uma tragédia que não pode ser contabilizada falando-se apenas de números, mas de pessoas que tinham uma história, familiares e amigos, e cujas memórias e vidas não podem ser esquecidas. Na opinião dos participantes, a pandemia tirou da população a perspectiva do “ir e vir”, e expôs profundamente as desigualdades em nosso país.

Durante a roda de conversa ficou explícito que o debate sobre a transformação do nosso sistema político também passa por empoderar novos sujeitos políticos. Além disso, é necessário refletir qual é esse novo sistema político que o Brasil quer. Ou seja, não é apenas derrubar o sistema político como está hoje, mas sim construir um novo. Sobre esse novo sistema político, os representantes da Plataforma lembraram da campanha “Quero Me Ver no Poder”, que teve o intuito de sensibilizar a população para o enfrentamento da sub-representação nos espaços de poder. Exatamente porque construir um novo sistema político dá-se pela representatividade de todos, em especial das pessoas que estão nas periferias e das minorias em geral, que hoje não estão representadas no poder, de forma igualitária. 

Representantes de movimentos e organizações sociais do Distrito Federal, Mato Grosso, Goiás e Mato Grosso do Sul relataram o cotidiano de ações junto às comunidades e os problemas que enfrentam em seus estados. Foram constantes relatos sobre a violência e ódio contra os povos tradicionais, racismo, violência e preconceito contra a população LGBTQIA+, intolerância religiosa, sexismo, falta de políticas públicas para as minorias, violência contra trabalhadores do campo, machismo, trabalho escravo, violência policial, dominação e exploração de terras pelo agronegócio, e outras declarações que emocionaram e levaram todos os participantes da roda de conversa a refletir sobre enfrentar todas essas ameaças. As respostas, segundo eles, passam por uma política diferenciada e articulação da população, dos movimentos e organizações sociais.

Ao final da roda de conversa, as opiniões foram convergentes e indicaram que a realidade brasileira exige reflexões, como as que são feitas durante os encontros regionais e nacionais da Plataforma. Um dos temas que merece uma profunda reflexão é a democracia no Brasil. O questionamento de todos foi: como falar em democracia se a população negra, indígena e as minorias não estão representadas no poder? Diante disso, a função da Plataforma é exatamente essa: como acabar com essas sub-representações? As soluções passam pelo fortalecimento da democracia direta e participativa. Aperfeiçoamento da política representativa, do sistema eleitoral e dos partidos políticos. Trabalhar pela democratização da informação e da comunicação e também pela democratização e transparência do sistema Judiciário. Os representantes da Plataforma foram enfáticos: sem debater esses grandes temas, não teremos um sistema político com poder distribuído. Especialmente porque, quando falamos em sistema político, estamos falando também do dia a dia das nossas vidas, tanto no âmbito nacional, quanto no âmbito local.

Ao longo do Encontro, também foi construído um mapa online de lutas da região, que identificou locais, ações e movimentos de resistência que atuam no sentido da conquista de uma sociedade efetivamente democrática.