Artigo escrito por Hannah Maruci, originalmente publicado por Estadão
A PEC 125/2011, que originalmente tinha como objetivo vedar a realização de eleições em data próxima a feriado nacional, foi o ponto focal para o desenvolvimento da discussão sobre reforma eleitoral presente no Congresso Federal. Essa proposta serviu de “barriga de aluguel” para agilizar a tramitação de mudanças eleitorais, uma vez que, para que sejam válidas nas Eleições de 2022, elas têm de ser aprovadas até outubro deste ano. Entre as alterações que mais têm apresentado adesão dos parlamentares, chama atenção a ânsia pela adoção do sistema eleitoral conhecido como distritão[1]. Mas quais seriam os efeitos da mudança de um sistema proporcional para um sistema majoritário dividido em distritos e por que há tanta pressa em fazer com que ela passe a valer já nas próximas eleições?
Na maioria das vezes, mudanças estruturais do sistema eleitoral estão ligadas a expectativas de mudanças nos resultados das eleições. No caso do sistema distrital, vê-se uma tentativa de frear transformações e manter a composição dos eleitos semelhante àquela sustentada por séculos (branca e masculina). A partir da
e da base de dados produzida pelo Gabinete Compartilhado, construímos de forma aproximada o cenário que teria sido produzido pelo sistema distrital nas Eleições de 2018. Aproximada pois se trata de uma projeção feita sobre um pleito eleitoral que vigorou sob o sistema proporcional.
No cenário das Eleições de 2018 sob o distritão, é provável que quatro mulheres não tivessem sido eleitas e que essas cadeiras fossem ocupadas por homens. Trata-se de um retrocesso sobre uma situação que já é extremamente desigual: o Brasil ocupa hoje a posição 143 no ranking de porcentagem de mulheres nos parlamentos nacionais da Inter-Parliamentary Union.