Reunião Nacional debate a Plataforma da Reforma Política na perspectiva de raça e gênero em Salvador

Redação Odara

Nos dias 19 e 20 de março, o Odara – Instituto da Mulher Negra, a Articulação de Organizações de Mulheres Negras (AMNB) e o Instituto de Estudos Socioeconômicos  (INESC) – Organizações que compõem a Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma do Sistema Político, realizou reunião nacional com as representações de cerca de 30 instituições  da sociedade civil com expertise em gênero, raça, população LGBT, etnia e intolerância religiosa, filiados à Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma do Sistema Político e parceir@s. A reunião aconteceu na sede da Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE), em Salvador, e teve como objetivo promover o debate entre as organizações e partilhar pontos inegociáveis e estratégicos de incidências para organização do Encontro Nacional, que aconteceu, em Brasília nos dias 2, 3 e 4 de abril.

O debate sobre a Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma do Sistema  Política no Brasil teve como ponto de partida os seguintes pontos: Qual a democracia que nós temos? Qual o sistema que queremos?.

No primeiro dia  à atividade foi iniciada com uma dinâmica de autocuidado ministrada por Binah Botelho, que apresentou o Itã da galinha d’Angola. A dinâmica foi finalizada com troca de afeto para rememorar o significado Sankofa. Em seguida foi apresentado  um vídeo em homenagem a luta e memória de Makota Valdina Pinto, que faleceu na madrugada do dia 19 de março.

A atividade foi iniciada pelas convidadas Suzie Silva (Indígena), Heliana Heméterio (CANDACES) e Joana Darc (AMB), que apresentaram questionamentos a cerca da seguinte pergunta: “QualEstado democrático de direito  está estabelecido na sociedade?”. Elas também falaram sobre a importância da atuação na estrutura mesmo com a democracia dando conta de todas as representações políticas. Na ocasião, ressaltou-se também a importância do alinhamentos com os coletivos políticos. Ao relatar sobre a realidade indígena, Suzie Silva destacou o papel do projeto genocida que impacta diretamente na luta pelo direito à terra e territórios das comunidades tradicionais. “Uma história de reinvenção e sobrevivência, que faz brotar novas estratégias de reexistência. Cortaram nossos galhos, cortaram nossos troncos, mas se esqueceram de arrancar nossas raízes e estamos aí, brotando de novo” afirmou.

O diálogo seguiu a discorrer sobre outros pontos, como: a invisibilidade dos corpos negros e indígenas no modelo político social vigente, que não enxerga essas existências, na apropriação capitalista e midiática das pautas dos movimentos sociais, a exemplo da  violência contra às mulheres. Durante o debate Ana Gualberto (KOINANIA) levantou  reflexões a partir da religiosidade, da intolerância e do racismo religioso. “O combate ao ódio e intolerância é para quem acredita numa sociedade mais justa. Somos majoritariamente mais atingidas.”. A ativista também abordou a importância da luta coletiva e do “não apagamento” dos cristãos, que não são a favor dos crimes de ódio.

O segundo dia de atividade também foi iniciado com oficina de autocuidado através da ancestralidade das folhas e reconexão sensitiva e memorial. Logo após, Valdecir Nascimento, coordenadora executiva do Odara, da AMNB e FOPIR deu início a conferência – “Um olhar Negro e Feminista em Busca de um outro Sistema Político – A proposta do Bem Viver é Possível”. Valdecir inicia afirmado ser uma tarefa difícil, a discussão de um outro sistema político,  nesse cenário. “Quando para cá fomos trazid@s, já estava tudo definido. Sistema político, democracia, privilégios, etc. Tudo estava aí e estava inventado. A crise histórica de valores é mundial. A crise vai para o segundo plano e o capital ganha seu lugar. Essa invenção chamada democracia, sistema político, sociedade brasileira, não nos cabe. A aversão e intolerância das pessoas a nossas diferenças é assustadora.Querem nos adequar de qualquer maneira, seja na negação, no silêncio, na invisibilidade através das mais variadas formas de violência.”, afirmou Nascimento.

A feminista negra também falou sobre o fortalecimento da pauta política para revelar o poder das organizações sociais. Valdecir Nascimento reforçou a necessidade de refletir sobre o inimaginável, de revisitar e estudar o processo completo para abrir vazão ao surgimento dessas novas esferas e uma nova forma de pensar e fazer política. “Agora teremos que “mergulhar em poços” para apontarmos um modelo. Solucionar algo de mais de 500 anos da noite para o dia? Precisamos estudar, trocar, pensar e propor um outro modelo que caiba todos e todas. O princípio de estar no mundo é como perceber a humanidade.”, declarou.

Já Heliana Hemetério (CANDACES) afirma que, ‘’ Existe a necessidade de se ter uma reforma política pensando na inclusão dos segmentos que, em partes, nunca foram reconhecidos e por isso nunca estiveram realmente dentro do projeto político de país, estou falando das  lésbicas negras, gays, travestis, transsexuais, mulheres, negros e indigenas. Para que haja a democracia é preciso investir na desconstrução das discriminações. Não adianta ser um gay branco, mas racista e denunciar a gayfobia. Não adianta ser negro e negra denunciar o racismo e ser lesbofobico. É um trabalho conjunto.’’

Mediante a esse debate foi feita a exposição da plataforma e do edital de aceleração para pequenos projetos. As inscrições abertas até o dia 30 de abril.

Entre organizações nacionais, regionais e locais estiveram presentes: AMNB, ABPN, AMB, ANJF, CAMA, CANDACES – Rede Nacional de Lésbicas e Bissexuais Negras Feministas Autônomas, Cia de Dança Motumbá, CESE, Coletivo Angela Davis, CONAQ – Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas,  Coletiva BREJO,  FOPIR, Geledés – Instituto da Mulher Negra, INESC,  Liga Brasileiras de Lésbicas (LBL), Nzinga – Coletivo de Mulheres Negras de Belo Horizonte, KOINANIA – Presença Ecumênica e Serviço, ODEART, Projeto Marta Guarani, Redes da Maré, Rede Afro LGBT, Rede Nacional de Religiões Afro-brasileiras e Saúde (RENAFRO), Rede de Mulheres Negras do Nordeste, Rede de Mulheres de Terreiros da Bahia, Rede de Mulheres Negras da Bahia e SOS Corpo. A atividade foi finalizada com uma apresentação musical e autoral da cantora e militante da Coletiva de Sapatonas Negras – Brejo, Iane Gonzaga.

Segue o link para os videos produzidos no encontro:

Deixe um comentário

três × cinco =