Alexandre Putti
Pesquisa divulgada nesta segunda-feira 8 pelo Datafolha, em parceria com a Oxfam Brasil, aponta que 77% dos brasileiros defendem aumentar os tributos de pessoas ricas para financiar políticas sociais. Além disso, 94% concordam que o imposto pago deve ser usado para beneficiar os mais pobres do país e 86% acreditam que o progresso do Brasil está diretamente ligado à redução da desigualdade econômica entre ricos e pobres.
A pesquisa foi realizada entre os dias 12 e 18 de fevereiro e entrevistou 2086 pessoas. Segundo os idealizadores, o intuito do levantamento é ampliar o debate sobre as desigualdades.
O resultado chamou atenção por ter uma baixa adesão ao projeto de um Estado mínimo, defendido pelo governo Bolsonaro. Mostram os dados:
84% concordam que é obrigação dos governos diminuir a diferença entre muito ricos e muito pobres, ante 79% em 2017.
75% apoiam a universalidade do ensino público fundamental e médio.
73% defendem a universalidade para atendimento em postos de saúde e hospitais.
81% da população acha que o governo deveria diminuir os impostos sobre os produtos e serviços que a população consome e compensar a diferença com o aumento de impostos sobre a renda dos mais ricos, um aumento de 9 pontos percentuais em relação à pesquisa de 2017.
“Só avançaremos no combate às desigualdades se os temas do racismo, da discriminação de gênero e do respeito à diversidade, da discriminação pelo endereço de moradia, do assassinato de jovens de periferia, tiverem a mesma urgência que os temas econômicos e fiscais”, afirma Katia Maia, diretora-executiva da Oxfam Brasil.
Meritocracia
‘Não dê o peixe, ensine a pescar.” O ditado é muito utilizado por políticos e críticos de políticas sociais, como o Bolsa Família, e defensores do Estado mínimo. O resultado da pesquisa, porém, mostra algo que deve desagradar Guedes, Bolsonaro e afins.
58% dos entrevistados não acreditam que o trabalho equaliza as chances dos mais pobres. E 51% não creem que a educação das crianças mais pobres equaliza suas chances de uma vida de mais sucesso.
Mesmo com maioria dos entrevistados percebendo os desafios para que as pessoas pobres possam ter uma vida melhor, uma parcela da população ainda não percebe que a mobilidade social depende de uma combinação de políticas e fatores sociais, econômicos e territoriais que vão além do esforço individual. Nascer em favelas e nas periferias de grandes centros urbanos, ser negro ou negra define, em diferentes aspectos, o futuro de cidadãs e cidadãos do nosso país.
A esperança é a última que morre
Mesmo o Brasil passando por uma crise econômica, 70% dos entrevistados acreditam que estarão na classe média ou classe média alta em um período de cinco anos. Entretanto, 57% acreditam que as desigualdades não diminuirão nos próximos meses.
Há ainda um grupo minoritário de 4% que se vê dentre os “ricos” no período de cinco anos.