Por Kauê Vieira , do Hypeness
A simbologia representada pela cria da favela da Maré foi o ponto de partida para um desfile sobre o Brasil de verdade. Negro, índio e cafuzo. O Brasil alvo insistente dos coturnos do apagamento.
Vencedora do Estandarte de Ouro – oferecido pelo jornal O Globo para a melhor escola do Grupo Especial em 2019, a verde e rosa recontou a história do país chocolate mel trazendo consigo heróis da resistência negra e indígena.
Esqueça Pedro Álvares Cabral, a família real portuguesa, os Bandeirantes de São Paulo, Princesa Isabel (viu, Vila?), na Sapucaí reinaram reis e rainhas negras e indígenas. História para Ninar Gente Grande, assinado pelo carnavalesco Leandro Vieira, revelou a potência de símbolos ignoradas ou tratados com passividade pelos livros de história.
Você já esteve em um terreiro? Conhece a história do índio Tupã? Sabe que o alfabeto brasileiro é atravessado de palavras de origem africana? Tem noção da presença negra na receita do acarajé? Não? Então, meu nego, você precisa conhecer o Brasil de verdade.
Os 3.500 componentes da Mangueira deram o valor devido para representatividade que mora na potência de figuras como a de Luiza Mahin. Nossos passos vêm de longe. Muito mais do que uma ex-escravizada, se tornou uma das lideranças na luta contra a escravidão na Bahia do início do século 19.
A mãe do abolicionista Luiz Gama é central na Revolta dos Malês. Não te contaram na sala de aula, mas o movimento retratado na Sapucaí lutou pela liberdade com aproximadamente 600 negros africanos escravizados. Mahin, vendedora de quitutes, se comunicava com os homens por meio de bilhetinhos.
Ponto para a Mangueira. A escola foi elemento fora da curva em uma estrada ainda com trajeto viciado. Em 2019, a Unidos de Vila Isabel teve a batida ideia de homenagear Princesa Isabel, considerada a responsável pela ‘liberdade’ de negros e negras escravizadas. Luiza e a Revolta dos Malês mostram o contrário.