“Desde meados de agosto, toda matéria que chega de agência (Reuters, Estado, Folha, EFE, AP…), ou que pretendemos escrever, precisa antes de uma autorização verbal de quem está comandando a redação. A gente chega e pergunta: ‘posso subir matéria tal da agência tal?’
Três semanas antes de começar o primeiro turno a gente foi ‘liberado’ para subir conteúdos dos candidatos, contanto que não fosse negativo ao Alckmin.
Após o Edir Macedo ver que o Alckmin não decolaria e declarar via Facebook que apoiaria Bolsonaro, a redação deu uma guinada. Passamos a publicar exclusivamente coisas positivas sobre o candidato do PSL e coisas mornas sobre Haddad, Ciro e Alckmin.
Passado o primeiro turno, começou o jogo sujo. Nada de pauta negativa ao Bolsonaro, a não ser que seja um assunto de grande visibilidade. A gente pode subir pautas positivas do Haddad, mas geralmente elas não são chamadas na capa nem nas redes sociais. Ou seja: ninguém vê.
E agora começaram a aparecer encomendas. O primeiro alvo foi Ciro Gomes. Um excelente repórter foi obrigado a escrever coisas ridiculamente negativas e velhas sobre o ex-candidato do PDT, acredito eu que para tentar denegri-lo caso ele decidisse apoiar o Haddad firmemente.
Houve brigas na Redação por que, teoricamente, deveríamos assinar essas matérias. Mas ninguém aceita expor seu nome a esse trabalho sujo. Pode notar que a maioria delas não tem assinatura.
O clima ficou pesado, todos estão decepcionados de fazer esse jornalismo marrom. Um dos melhores e mais resilientes repórteres de lá agora bate boca diariamente com a chefia.
A gente se sente refém das demandas do alto comando. Recebemos ordens pra fazer um antisserviço à população e nem sequer sabemos quem deu essas ordens lá em cima. Considerando a boa audiência do portal, especialmente entre as classes C e D, dá um aperto no coração saber que a gente pode influenciar negativamente estas eleições.”