Na sociedade de mercado tudo vira objeto de lucro, avalia Leonardo Boff

Katarina Flor

“Passamos de uma economia de mercado para uma sociedade de mercado. Isso significa que tudo pode virar objeto de lucro. Hoje, tudo é vendido”, alerta Leonardo Boff. O teólogo ainda completa: “essa transformação trouxe corrupção para todas as nossas sociedades”.

Leonardo Boff participou da conferência ‘Os desafios atuais da humanidade e o cuidado com a casa comum’, realizada nesta quarta-feira (6), em Curitiba, durante a abertura da 17ª Jornada de Agroecologia e qualificou o capitalismo como um sistema assassino e anti-vida: “É um  sistema corrupto, que não reconhece nenhuma sacralidade”, lembrando de violências como o tráfico humano e da situação dos refugiados no mundo.

O pesquisador destacou, ainda, a gravidade da acumulação de armas nucleares químicas e biológicas com capacidade para destruir toda a vida da terra. Segundo o teólogo, “nós criamos o que os cientistas chamam do princípio da auto-destruição”. E, referindo-se ao presidente norte-americano Donald Trump, afirmou que “somos governados mundialmente por um louco que é capaz de iniciar uma terceira guerra mundial”. Ele lembrou que os EUA têm hoje entre 800 e mil bases nucleares distribuídas no mundo inteiro. Além disso, chama a atenção para o fato muitas delas terem ogivas nucleares.

“Outra ameaça que paira sobre nós é o aquecimento global”, disse o teólogo, que afirmou ser um tema negligenciado pelas grandes potências globais que se recusam a cumprir tratados internacionais que abordam o tema. Segundo ele, isto ocorre porque o combate ao aquecimento global afeta os negócios de grandes industriais. “O capitalismo pode perder ‘pé’, ‘mão’ e tudo, mas não renuncia a sua voracidade de acumulação”, afirmou categórico.

A escassez da água potável é outro desafio indicado na análise do intelectual. “Se teme guerras de grande mortalidade para se ter acesso à água potável”, analisa. Ele lembra que o avanço do agronegócio sobre a Amazônia e sobre o cerrado afetam grandes mananciais de água: “A terra não é um baú de recursos que nós vamos tirando e tirando. Nós somos terra, mas esquecemos disso”, concluiu Boff.

O evento de abertura da jornada foi realizado na noite desta quarta-feira (6), no teatro Guaíra, espaço onde, em janeiro de 1985, há 33 anos, foi realizado o congresso que fundou nacionalmente o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST). Fato ocorrido durante a ditadura militar e que contou com a presença do ex-presidente Lula.

A organização é de mais de 40 movimentos e entidades do Paraná, entre movimentos do campo, universidades e centros de formação. Entre eles está o MST.

A 17ª Jornada de Agroecologia é realizada de 6 a 9 de junho em Curitiba. Estão previstas conferências, oficinas sobre agroecologia, feira de alimentos e culinária da terra. Confira a programação no site: www.jornadaagroecologia.com.br .

Edição: Laís Melo

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