Intérpretes do país sem futuro

Mino Carta

O espetáculo encenado pelo STF dia 4 de abril de 2018 é altamente representativo da tragédia de um país medieval chamado Brasil. Há tragédias e tragédias, a nossa é tosca, grosseira, vultar, a ponto de assumir o tom e o ritmo da pantomima e precipitar no ridículo.

O espetáculo encenado pelo STF dia 4 de abril de 2018 é altamente representativo da tragédia de um país medieval chamado Brasil. Há tragédias e tragédias, a nossa é tosca, grosseira, vultar, a ponto de assumir o tom e o ritmo da pantomima e precipitar no ridículo.

Não, não falarei do senhor Fux, ou do senhor Barroso e de outros fantasiados de magistrados, e não farei referência aos seus pronunciamentos indecifráveis aos ouvidos da larguíssima maioria dos brasileiros e de bilhões de habitantes da bola de argila a girar em torno do Sol.

Não direi do provincianismo troglodita que estabelece elos evidentes entre o STF e a Academia Brasileira de Letras, com a única vantagem a favor desta de não transmitir pela televisão os seus célebres chás. Afirmo apenas que o clube dos supremos togados é o primeiro responsável pelo estado de exceção que engole a todos como um abismo sem fim.

A mais alta corte de países democráticos e civilizados é a guardiã da Constituição, defensora irredutível do Estado de Direito e santuário de baixíssimo perfil. Ouvi os nossos patéticos togados aludirem com pompa grotesca à constitucionalidade deste ou daquele ato, quando eles mesmos permitiram que a Constituição fosse rasgada por ocasião do golpe de 2016, e rasgada permaneça até hoje, bem como a demolição sistemática do Estado de Direito.

O golpe começa com a aquiescência do Supremo, o beneplácito, o nihil obstat. E são eles mesmos, os caricatos ministros, que descumpriram clamorosamente o seu papel ao não coibir, conforme lhes competia, os desmandos da Lava Jato, na sua impecável imitação dos tribunais do Santo Ofício na encenação dos autos de fé.


A atuação da promotoria confunde-se com a do juiz, este fala com a mídia que o endeusa, enquanto demoniza o réu, a imparcialidade que haveria de caracterizar seu desempenho vai-se pelo ralo, mas trombeteia-se a estreia de um filme sobre as façanhas do pavão de camisa preta a apontar o culpado antes da conclusão do processo.

As delações valem se o delator diz aquilo que o Ministério Público quer escutar, se não diz continua preso nas piores condições, forma refinada de tortura. E que dizer do presidente do TRF4, que, depois da condenação sem provas de Lula em Curitiba, define como irrepreensível a sentença de Moro, embora o processo ainda não tenha alcançado a segunda instância? Em países democráticos e civilizados, os juízes de Curitiba e Porto Alegre teriam sido prontamente exonerados pela alta corte.

O STF soletra o que somos, na tragédia e no ridículo. E só faltava o pronunciamento do general Villas Bôas, o fardado que em certos momentos pareceu respeitar seus deveres constitucionais. E lá vem ele, com o tom dos generais de um exército de ocupação. Preocupa-se agora com a impunidade. De quem? De Lula? Ou de tantos mais?

O maior objetivo do golpe, afastar o ex-presidente do próximo pleito, parece atingido e nem por isso os golpistas no poder podem esperar conservá-lo nas urnas. E, com as palavras do general, expande-se a incógnita no país sem futuro.

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