Congresso do Povo | Os estudantes e a construção de um novo projeto de sociedade

Nos dias 24 e 25 de março, a Frente Brasil Popular (FBP), organização que conta com 80 movimentos populares e partidos de esquerda, realizou seminários estaduais preparatórios para a organização do Congresso do Povo. Mais de 500 lideranças se reuniram nas etapas de Sergipe e São Paulo.

Convocado no final de 2017 com o objetivo de realizar mutirões de debates e formações populares sobre os rumos do país, o Congresso do Povo é um processo que pretende lotar, no segundo semestre de 2018, o estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro, com mais de 50 mil pessoas para sua etapa nacional. No momento, a iniciativa, considerada inédita no país, está em sua fase estadual.

Brasil de Fato conversou com a sergipana Jessy Dayane, vice-presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE), sobre o papel do Movimento Estudantil na construção desse processo. Segundo a estudante, se o objetivo do Congresso é reunir o povo para pensar suas próprias respostas à crise política e econômica brasileira, os estudantes serão responsáveis por discutir a educação que esse novo projeto pautará para o país.

“Há um ataque à democracia dentro da universidade, um ataque ao direito de estudar, porque se você retira os recursos, tira uma parcela de estudantes da universidade. Por esse motivo, os estudantes também estão muito envolvidos com os problemas do país”, afirmou.

Jessy aponta que, como forma de mobilização da base de estudantes para o Congresso do Povo, a UNE reeditara sua iniciativa “UNE Volante”, que aconteceu pela primeira vez na década de 1960. Dessa vez, a proposta é percorrer universidades de todas as regiões do país com o objetivo de debater com os estudantes os possíveis projetos de universidade pública.

 

Confira a entrevista na íntegra:

 

Qual o objetivo do Congresso do Povo?

O Brasil vive uma crise política e uma crise econômica que é mundial. Isso implantou no nosso país um golpe e, com ele, um projeto neoliberal antipopular e antidemocrático, que tem retirado uma série de direitos do povo brasileiro.

A crise política gera uma disparidade entre as representações. O povo brasileiro não se sente representado pelo Congresso Nacional e nem ele consegue responder as demandas e problemas do povo. Não se sente representado no judiciário, em nenhum dos poderes do Brasil. Então, cria-se uma grande crise de deslegitimidade das instituições, inclusive em relação aos partidos.

Os movimentos populares, identificando esse processo e a necessidade de sairmos deles – porque se continuarmos onde estamos a tendência é que o desemprego aumente cada vez mais, que a educação esteja cada vez menos acessível, que a violência se intensifique — propõem o Congresso do Povo. Ou seja, se as instituições não conseguem dar essas respostas, que o próprio povo reflita quais os problemas do país, quais as soluções, e como podemos alcançá-las. Então esse é o Congresso do Povo.

Qual o papel dos estudantes brasileiros no processo de construção do Congresso do Povo?

Nós, estudantes brasileiros, temos vivido uma série de ataques. A educação pública tem muito menos recurso, diante da Emenda 95, que colocou um teto nos gastos públicos pelos próximos 20 anos. Isso já tem um impacto no orçamento de 2018. Significa menos bolsas, menos estrutura para as universidades e, consequentemente, menos acesso a brasileiros e brasileiras, em especial os mais pobres.

Fora isso, também temos vivido um processo de intensificação de um autoritarismo na universidade. Tivemos um ataque à UFSC, à UFMG, que afronta a autonomia universitária e retira a autonomia dos estudantes, professores, técnicos e pesquisadores de elaborar ciência e pensar o país. Isso é um ataque à democracia dentro da universidade, é um ataque ao direito de estudar, porque se você retira os recursos tira uma parcela de estudantes da universidade.

Por esse motivo, os estudantes também estão muito envolvidos com os problemas do país. Se o povo tem que pensar nos problemas e soluções, os estudantes brasileiros também têm que pensar como nós, brasileiros, vamos que nos movimentar para alcançar essas soluções. Esse é o papel dos estudantes nesse processo. Precisamos nos somar, tanto para debater e construir o projeto de nação, quanto debater nossas próprias questões específicas da educação. Nosso grande moto será esse: “Como o conjunto de movimentos populares e estudantes podem se unir para construir esse projeto popular em torno dessas mudanças?” Esperamos muito que o Congresso do Povo consiga, nesse momento, responder a esse processo.

Quais estão sendo as estratégias para convocar a base de estudantes para esse processo?

Nós acabamos de aprovar, em janeiro deste ano, a reedição da UNE Volante, uma iniciativa que a UNE fez na década de 1960, uma caravana que roda as universidades fazendo debate, disputando consciências. Naquela época era um contexto de debate sobre as reformas de base no Brasil e a UNE rodou as universidades fazendo debate sobre a reforma universitária, que é nossa reforma de base.

Agora, nesse momento político de crise econômica e política, avaliamos reeditar essa experiência. Começa agora no dia 17 de abril, lá no Maranhão, vai ser o primeiro lugar que vamos passar. Vamos rodar todas as regiões do país, passando por várias universidades, e debatendo com os estudantes. O mote da UNE Volante será a defesa da universidade pública. Esse processo culmina no Congresso do Povo. É a nossa forma de fazer com que os estudantes fiquem sabendo do Congresso do Povo.

Também demos a orientação para toda a rede do Movimento Estudantil, para as entidades estaduais, para os DCEs nas universidades, e para os centros acadêmicos. Toda a rede de movimento estudantil está orientada para fazer esse debate, para que a gente alcance todas as universidades do Brasil.

Edição: Thalles Gomes

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