O diretor presidente da Escola de Governo de São Paulo, Maurício Piragino , mais conhecido como Xixo, deu uma entrevista para o site da Plataforma sobre desigualdade, soberania popular e reforma polítoca.
Vale a pena conferir!
Xixo, a Escola de Governo está desenvolvendo um ciclo de diálogos sobre o lugar do povo soberano? O último evento será no dia 6 de dezembro, em São Paulo, na PUC. Nos fale qual é o objetivo dessa ação, qual o lugar do povo soberano no Brasil de 2017?
A ideia de construir um Ciclo para pensar o Brasil nesses tempos sombrios procurou estabelecer alguns pontos que vem sendo revelados mais uma vez na história do Brasil: o povo é mero assistente e a polarização política esterelizou qualquer possibilidade de resposta aos tantos problemas que se apresentam. Nós, da Escola de Governo, estamos num processo de revisão institucional e, como temos a bandeira da participação em nosso DNA, estamos fazendo reuniões com docentes, ex-alunos e amigos da Escola de Governo. E nesses fóruns foi resgatado esse papel fundamental que nossa Escola sempre fez no sentido de dar voz a diferentes atores progressistas. Junto disso a PUC-SP com sua nova reitoria, que visa resgatar o papel histórico que a PUC sempre teve no sentido da resistência democrática e do conhecimento vinculado ao compromisso social da universidade, casamos nossas expertises e estamos fazendo um “Ciclo de Diálogos para saber do lugar do povo soberano” e constituímos 5 mesas cada uma com um foco(que são os pilares orientadores da ação da Escola de Governo): ética, república, direitos humanos, democracia e desenvolvimento.
O Brasil mais uma vez mostrou que tem uma democracia de conveniência, isto é, quando nossas elites se sentem prejudicadas e com risco de perder seus enormes privilégios, sempre se articulam e resgatam seu espírito golpista, que vem marcando a história do Brasil desde a chegada dos portugueses. Nossa preocupação nesse Ciclo é dar voz aos povos originários e também trazer a tona essa enorme dívida que o Brasil tem com a população negra. Nossas mesas de diálogo sempre têm sido precedidas por uma intervenção provocadora através de grupos culturais ou dos movimentos sociais. Essa crise que vivemos no Brasil e no mundo contemporâneo diz respeito a uma potencialização da convivência, isto é, uma “hiperconvivência”. Hoje sei tudo o que se passa com pessoas que anteriormente só tinha uma noção do que acontecia na vida delas. Essa extrapolação da convivência das pessoas na sociedade não veio acompanhada de uma nova ética , fundamental para não ficarmos pisando uns nos calos dos outros. Esse grande irmão o BIGDATA, está sendo controlado por grupos privados que censuram, escondem, mostram, conforme seu interesse econômico e através disso precisam controlar quanto cada um de nós devemos ser solidários. Numa sociedade capitalista, para o ‘Deus-lucro’ é melhor que sejamos cada vez mais individualistas e egoístas. É contra isso que lutamos e queremos trazer a nossa contribuição com atividades como essa do Ciclo de Diálogos. Aproveito para fazer um convite: para que as pessoas participem presencialmente ou através das transmissões on line que estamos fazendo através da TV PUC(procure no Youtube ou a nossa página no Facebook). E nos ajudem a resgatar o papel soberano do povo brasileiro! Precisamos desobstruir os canais de participação para que o soberano tenha voz e vez!
No início desse mês, a OXFAM lançou um documento que retrata o nível de desigualdade que o Brasil vivencia. A Rede Nossa São Paulo, essa semana, também publicou os dados sobre o Mapa da Desigualdade em São Paulo. Nos fale um pouco cobre o resultado da pesquisa.
Participei do lançamento e uma das pessoas que estará na nossa mesa no Ciclo de Diálogos será o Oded Grajew que certamente falará da enorme desigualdade que é imposta no Brasil na medida que ele é o presidente do Conselho da Oxfam. Aqui naturalizamos a falta de acesso a questões básicas, achamos normal pessoas não terem casa, por exemplo, viverem na rua. Ou que uma pessoa com a pele negra por mais que ela se prepare, nunca chegará ao nível de ganho de uma pessoa de pele branca, mesmo tendo a mesma qualificação. É estarrecedora essa naturalização! Da mesma forma no Mapa da Desigualdade da cidade de São Paulo indica a lógica que vários urbanistas têm colocado que é a lógica da cidade ser a da exclusão. E os problemas estão compostos de tal forma, que há uma retroalimentação: os cidadãos que vivem na periferia têm pouco acesso aos equipamentos públicos, são áreas sem lazer, sem equipamentos de cultura, sem verde e que vivem a ação do Estado mais como repressora através de uma polícia violenta e não como uma assistência para o enfrentamento da exclusão. E os equipamentos e ação pública estão mais no centro expandido pois o equipamento público é uma esponja dos recursos e a lógica da exclusão se mantém. Nós somos passionais no julgamento dos que vivem longe do centro. Acreditamos que foi Deus que quis e que não temos nada com isso.
Podemos dizer que a desigualdade no acesso aos direitos, serviços e oportunidades é uma grande problema nacional? A desigualdade social e econômica é reflexo do sistema político que temos no Brasil?
Esse é o principal problema brasileiro. Não é a corrupção como pensam os mais ingênuos. O sistema político brasileiro segue a mesma lógica do sistema tributário para manter a desigualdade: enquanto os espaços políticos são ocupados pelos das classes mais privilegiadas ( homens brancos com mais de 40 anos , heterossexuais,empresários ou profissionais liberais), esses providenciam que o status quo se mantenha: os pobres pagando a conta sempre por desembolsarem proporcionalmente mais impostos e por terem menos acesso as políticas públicas e as boas regiões das cidades. E esse governo golpista nem fica corado por explicitamente seguir esse objetivo. Talvez sejamos o povo mais hipócrita do mundo! É provável que tenhamos as elites mais egoístas do mundo!