Felipe Seligman
Por mais que seja impossível mensurar hoje o legado da Operação Lava Jato para o Brasil, observadores estrangeiros se arriscam a tirar algumas conclusões a respeito do inédito esquema brasileiro e de uma investigação ampla e sem precedentes no país.
A primeira das conclusões vem de Patrick Stokes, ex-chefe da unidade anticorrupção do Departamento de Justiça Americano, para quem a Lava Jato tirou o Brasil das últimas colocações na luta mundial contra a corrupção, colocando-o em posição de destaque, “entre os primeiros”.
A segunda, um tanto otimista, parte de Kenneth Blanco, atual chefe interino da área criminal do Departamento de Justiça, autoridade que já se reuniu por diversas vezes com o procurador-geral da República brasileiro para discutir cooperação entre os dois órgãos. Blanco compreende o movimento brasileiro como uma tendência mundial de combate ao crime organizado, promovido conjuntamente por instituições de controle de diversos países. “Não nos reunimos aqui apenas para falar de corrupção. Nós estamos agindo para combatê-la”.
A terceira vem do próprio Rodrigo Janot, que reconhece o reforço na cooperação e troca de informações com outros países no combate à corrupção. O procurador brasileiro afirma que a troca de informações, independentemente de investigações formais, têm sido fundamental para alinhar os países em busca de resolver esquemas criminosos transnacionais e que sem tal cooperação seria “impossível” obter resultados.
E explica que os resultados brasileiros também são consequência de uma troca intensa com os Estados Unidos, que forneceram ao Brasil treinamento e atualização aos investigadores brasileiros, além de tecnologia e técnicas de planejamento de investigação. Tudo isso, segundo o procurador, faz com que o Brasil tenha uma relação de igual para igual com outros Estados.
A troca de comando na Procuradoria-Geral da República, acrescentou Janot, não obstaculiza a sequência das investigações e não coloca em risco os avanços do processo. “Ela é irreversível. Essa investigação pertence à sociedade brasileira”, disse Janot ao JOTA. “Ela envolve instituições seríssimas: Ministério Público, Polícia Federal, Receita Federal, Coaf… São instituições que têm quadros técnicos próprios e estáveis. É impossível que se consiga desvirtuar uma investigação dessa”, ponderou.
Os três participaram ontem (19/07) de evento realizado pelo JOTA e o Atlantic Council em Washington (EUA) para discutir o que está acontecendo no Brasil, em termos de combate à corrupção. O auditório do think tank americano estava lotado . Não há dúvidas de que a experiência brasileira atrai a curiosidade do mundo, por mais que a quentura dos fatos ainda não nos deixe tirar as conclusões definitivas.
Janot prometeu voltar a outro evento daqui a cinco anos para fazer um balanço sobre qual foi a sua atuação à frente da Lava Jato. Para ele, só a distância histórica permitirá analisar os arrependimentos, erros e acertos da investigação. Até lá, espera-se, será possível analisar com mais precisão —e longe do calor dos acontecimentos— os acertos e erros da Lava Jato.