Dia da Visibilidade Trans é data para marcar luta por direitos e reafirmar: “Nós existimos!”

Uma das campanhas mais legais criadas este ano é de uma banda de mulheres trans chamada Bahias e a Cozinha Mineira, com série de vídeos com leitura de histórias reais de pessoas da comunidade.

Para marcar o Dia da Visibilidade Trans deste ano (domingo, 29 de janeiro), uma banda de mulheres trans resolveu gravar cinco pequenos episódios em vídeo contando histórias de travestis, transexuais e transgêneros, todas baseadas em casos reais. O resultado é avassalador. A leitura das experiências, feita por Assucena Assucena e Raquel Virgínia, as líderes do grupo As Bahias e a Cozinha Mineira, tem a força de uma grande chacoalhada na inércia geral e irrestrita em relação ao preconceito, violência e invisibilidade social que as pessoas trans sofrem no Brasil.

A carga pedagógica e dramática dos vídeos nos coloca no banco dos réus. O que temos feito para garantir plenos direitos a transgêneros, transexuais e travestis no país? O que podemos fazer para acabar com os vergonhosos índices de violência que o Brasil apresenta ano após ano?

“A identidade a mim negada é gêmea do ódio”, diz Assucena em um dos vídeos, escancarando sem dó uma  triste estatística: o Brasil é hoje recordista mundial em assassinatos de pessoas trans.

Os dados da violência contra a comunidade trans no Brasil são essenciais para entendermos a seriedade do assunto, mas os vídeos da campanha “Nós Existimos” vão além. Eles falam sim da tragédia, das mortes, das tristezas, mas também dos anseios e sonhos de milhares de pessoas que fundamentalmente gritam: sim, mulheres e homens trans existem e têm muito o que dizer!

“O dia 29 de janeiro é fundamental para marcar a luta pelos direitos das pessoas trans – transgêneros, transexuais e travestis. O Brasil é um dos países que mais mata pessoas trans no mundo, crimes geralmente muito cruéis. Além dos crimes de homicídio, há outros crimes ligados à transfobia, como homens trans que são vítimas de ‘estupro corretivo'”, afirma Carmela Zigoni, assessora política do Inesc. “Além da violência física, pessoas trans são vítimas de violações de direito cotidianas, como a negação do nome social na maioria dos espaços sociais. E até mesmo a escola, que deveria ser um lugar de acolhimento e educação, muitas vezes perpetua a opressão, negando o direito dos adolescentes em expressar sua identidade de gênero.”

O Brasil é o país onde mais se mata travestis e transexuais no mundo. Segundo relatório da Transgender Europe, ONG voltada à defesa do direito das pessoas trans, o Brasil responde por 123 dos 295 casos de assassinatos de pessoas trans registrados em 2015 no mundo – o segundo colocado México contabilizou 52. A maior parte das mortes ocorre com pessoas ligadas à prostituição, função exercida por muitas pessoas trans por conta do descaso institucional, informa a revista Carta Capital.

No ano passado, o ativista trans Marcelo Caetano nos deu um depoimento, também em vídeo, sobre a questão do uso do nome social por pessoas trans. Para ele, o nome social é uma conquista importante, mas ainda uma gambiarra, um mecanismo precário de garantia de direitos. “Respeito e dignidade começam com o nosso nome, começam com quem a gente realmente é, o reconhecimento de quem a gente é.”

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