Fórum Social Mundial completa 15 anos com edição comemorativa em Porto Alegre, a partir desta terça-feira (19). Cerca de 20 mil pessoas devem participar do evento, que vai até o dia 23 de janeiro, segundo estimativa da prefeitura. Atividades estão programadas para diferentes pontos da capital. As inscrições custam R$ 20.
Realizado pela primeira vez na capital em 2001, o evento propõe um balanço dos últimos 15 anos e debates sobre novas perspectivas para o mundo. O sociólogo português Boaventura de Sousa Santos, o filósofo espanhol Manuel Castells e o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, têm presença confirmada na edição. Shows dos cantores Chico César e Nei Lisboa encerram a programação do primeiro dia.
Os principais temas em debate são as mudanças climáticas, o desenvolvimento das cidades e o Orçamento Participativo. As atividades estão programadas para acontecer no Parque da Redenção, Auditório Araújo Vianna, Câmara de Vereadores, Assembleia Legislativa, Largo Zumbi dos Palmares e o Parque Harmonia.
Mais de 470 atividades previstas
O Fórum Social Temático começa com sua tradicional Marcha de Abertura. Este ano, o evento carrega o lema: “Paz, Democracia, Direitos dos Povos e do Planeta”. A caminhada terá sua concentração no Largo Glênio Peres a partir das 15h, seguindo pela Avenida Borges de Medeiros, e terminando no Largo Zumbi dos Palmares, Cidade Baixa, onde acontecem os shows culturais de abertura. A organização espera 20 mil pessoas participando na Marcha.
As demais atividades do Fórum serão realizadas na Redenção (Parque Farroupilha) e no Auditório Araújo Viana, na Assembleia Legislativa e na Casa de Cultura Mário Quintana. Só o Parque da Redenção terá 20 tendas para abrigar atividades. As estruturas começaram a ser montadas na sexta-feira (15). Mesmo dia em que os primeiros participantes doAcampamento da Juventude, também ponto já tradicional dos fóruns, começaram a chegar ao Parque Harmonia.
Transporte em linha circular para participantes
Para auxiliar no deslocamento dos participantes entre os pontos do FST, a Carris irá disponibilizar uma linha circular, com passe livre, durante os cinco dias do evento. A linha começará a funcionar às 8h30, na parada ao lado da Câmara de Vereadores, e seguirá até às 19h, passando pelo Acampamento da Juventude, Largo Zumbi dos Palmares (Primeira Perimetral, dentre mais quatro pontos de embarque e desembarque no denominado Território do Fórum .
Este ano, as atividades autogestionadas estarão espalhadas em 470 atividades, segundo a última programação divulgada. Alguns convidados esperados para o evento tiveram de suspender agenda de última hora, como é o caso do senador e ex-presidente uruguaio José “Pepe” Mujica e do sociólogo espanhol Manuel Castells. Ainda assim, a organização está trabalhando com média de público entre 8 e 10 mil pessoas por dia, circulando nos diversos pontos do evento.
Para o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos – que diz ter Porto Alegre como sua segunda casa – a conjuntura do momento atual deve marcar o debate. “Há quinze anos estávamos mais otimistas e mais ofensivos nas conquistas que queríamos obter. Hoje estamos mais na defensiva devido aos ataques cada vez mais agressivos do neoliberalismo e da direita reacionária um pouco em todo o mundo. Temos de nos juntar para avaliarmos as nossas forças e para aprofundarmos a convicção que nem as vitórias nem as derrotas são irreversíveis”, declara ele.
Boaventura é também um dos organizadores do Fórum Social da Educação Popular, que começou neste domingo (17), como uma das atividades preparatórias do FSMT 15 anos. Esta será a primeira edição do encontro, que surgiu a partir do seu projeto da Universidade Popular dos Movimentos Sociais (UPMS).
Temas de ontem são fatos de hoje
Uma das 20 tendas montadas na Redenção servirá como espaço de memória para recordar a história de dez edições do Fórum Social Mundial. Mais do que isso, recordar o passado do FSM serve também para recordar que temas do passado, se tornaram fatos de relevância do presente.
Os temas pautados em 2001, na época do primeiro FSM – questões como meio ambiente, gastos com guerras, a insustentabilidade do capitalismo também para o 1º mundo – agora estão ainda mais em evidência.
“[Naquela época], não era claro as causas e consequências das mudanças climáticas. Hoje sabemos que são produto de ações humanas e sabemos dos enormes riscos que representam para a espécie humana”, recorda Oded Grajew. “O tema ambiental ganhou enorme relevância assumindo com muita força a agenda socioambiental. A lado das tradicionais organizações sociais e sindicais surgiram inúmeras pequenas organizações e redes”.
Na atual conjuntura da América Latina, onde o neoliberalismo volta a apontar, a volta do Fórum a Porto Alegre depois de 15 anos – ainda que em uma edição temática e local – parece ser em boa hora. Como diz Boaventura de Sousa Santos: “O papel do Fórum é defender a democracia nas instituições e nas ruas contra o golpismo da direita reacionária que sempre se habituou a ser democrática só e apenas quando a democracia serve aos seus interesses”.