Campanha alerta para crise hídrica no semiárido e aponta danos do agronegócio

 

A Rede Cáritas Ceará promove, desde maio de 2015, a campanha “Água Nossa de Cada Dia”, para alertar a sociedade sobre o direito à água e a importância de se adotar uma política sustentável do recurso hídrico. A iniciativa faz um recorte dos 100 anos de seca na região Nordeste do Brasil e ressalta o período marcado por estiagens, desde a “Seca do Quinze” (de 1915) – retratada, inclusive, na obra “O Quinze”, de Rachel de Queiroz. À época, os poderes públicos estaduais e federal chegaram a criar campos de concentração para isolarem a população faminta da zona rural e impedir que chegassem à capital do Estado do Ceará, Fortaleza.

 

 

A campanha chama a atenção para o mau gerenciamento do governo sobre os recursos hídricos. De toda a água do Brasil, 72% é usada para o desenvolvimento do agronegócio, nos sistemas de irrigação. Segundo o representante da Cáritas Regional Ceará, Alessandro Nunes, há uma centralização da água para atender a este setor de produção. Em contrapartida, muitas famílias não são abastecidas em períodos longos de estiagem.

 

A campanha adverte também sobre o uso de 1.500 tipos de agrotóxicos pelo setor do agronegócio, que, além de infectar os alimentos e as pessoas, contamina águas subterrâneas e superficiais, o solo e o ar. O Estado do Ceará concede até 100% de isenção fiscal para a circulação do produto químico.

 

De acordo com Nunes, uma pesquisa elaborada pela Universidade Federal do Ceará (UFC), coordenada pela professora e pesquisadora Raquel Rigotto, comprova que o uso do agrotóxico, substância utilizada para o controle de insetos, doenças ou plantas daninhas, afeta milhares de famílias, principalmente por causa da pulverização aérea. A técnica é usada para espalhar o veneno com auxílio do vento.

 

Nos limites da Chapada do Apodi, no município de Limoeiro do Norte, o método de pulverização tem afetado o meio ambiente ao redor e a produção de pequenos agricultores, em terrenos vizinhos. Segundo Nunes, há indícios até de que crianças nasceram com deficiências, devido a que as famílias ingerem alimentos contaminados pelos agrotóxicos deslocados pelo vento.

 

Um Projeto de Lei, de autoria do deputado estadual Renato Roseno (Partido Socialismo e Liberdade – PSOL), que prevê a proibição da pulverização aérea de agrotóxicos no Ceará, tramita na Assembleia Legislativa do Estado desde março de 2015.

 

 

Se o projeto de lei for aprovado, o Ceará será o primeiro Estado do Brasil a proibir a pulverização aérea com o uso de agrotóxicos.

 

Para pressionar pela aprovação do Projeto de Lei, a Cáritas vem realizando uma coleta virtual de assinaturas, através do site Avaaz. A meta é conseguir 50 mil assinaturas. Até o momento, foram registradas 1.324. Clique aqui para assinar.

 

Agroecologia

 

De acordo com a campanha “Água nossa de cada dia”, da Cártias, no Estado do Ceará, 50% da caatinga já foi desmatada. A previsão para as próximas décadas é de que 90% da população do Semiárido nordestino poderá sofrer com a escassez de água, por causa das mudanças climáticas decorrentes da degradação ambiental.

 

Segundo Alexandre Nunes, o prognóstico de ocorrência de chuvas indica apenas 30% do volume considerado bom para a estação chuvosa, nos próximos anos. Tudo isto reflexo da falta de cuidado com o meio ambiente.

 

A campanha aponta ainda como uma das soluções para a crise hídrica a aplicação da agroecologia, uma nova perspectiva política e social, que trabalha técnicas e formas de cultivo, em harmonia com o meio ambiente.

 

“A agroecologia admite que cada região tem seus limites, mas também suas potencialidades e propõe uma relação solidária, cooperativa, integrada e sistêmica entre governos e a população no geral”, afirma Nunes.

 

O representante da Cáritas alerta para que não só a população da zona rural se preocupe com a água, mas também a zona urbana, e que o governo precisa ser mais ativo ecologicamente.

 

De acordo com ele, as políticas de combate à seca não tem dado o apoio necessário às famílias que sofrem com a estiagem. Operações de emergência, como os carros-pipa, estariam sendo utilizada para fins políticos, alimentando a chamada “indústria da seca”. Ou seja, políticos tem se aproveitado da calamidade para conseguir verbas e votos.

 

Para Nunes, diante das falhas das políticas publicas, instituições da sociedade civil têm atuado para descentralizarem a água, por meio da distribuição de cisternas de placas/plástico e barragens subterrâneas, que permitem que a terra permaneça úmida para a produção, mesmo com a seca.

 

A Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA) desenvolve também mais de 220 mil tecnologias de captação de água de chuva para o consumo humano e produção de alimentos.

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