A forma como esse sistema está organizado legalmente contribui para a interdição da participação política de nós mulheres, e ainda mais se somos mulheres negras, indígenas e de classes populares. Essa conjugação atua na forma como organizamos nossos cotidianos e tempos para o exercício de tarefas e funções sociais que nos são impostas. Para organizar-se politicamente é preciso ter tempo e, para isso, torna-se indispensável a democratização também da vida cotidiana e a responsabilização compartilhada. O trabalho dedicado ao cuidado de pessoas que não podem se autocuidar (crianças, enfermxs, pessoas idosas), da alimentação e da casa nas famílias tem de ser realizado de forma compartilhada e corresponsabilizada por todxs da família e também pelos serviços públicos. É preciso gerar condições para o exercício da paridade na política, mas no trabalho reprodutivo também.
Soma-se a esta interdição a cultura política predominante, que é patriarcal, racista e patrimonialista, o que estabelece que a política é para os da classe dominante, homens brancos e proprietários. Impedir nossa participação política é uma forma de manter nossa subalternidade e desigualdade no acesso a direitos e políticas públicas. As condições de vida concreta das mulheres de esquerda, que atuam nos movimentos sociais e as imposições sociais que nos responsabilizam pelos trabalhos domésticos e pelos cuidados, como toda demanda afetiva que isso representa, também inviabiliza nossa participação política, em especial na forma como ela é organizada, longe de casa e em horários incompatíveis.
Por isso, nós mulheres somos maioria nos movimentos populares locais e muito minoritárias nas direções nacionais (ou nos cargos de maior poder) e nos partidos políticos e no parlamento.Durante o tempo em que o movimento feminista constrói essa luta e atua na plataforma, temos elaborado várias propostas de mudam no sistema político pra ampliar a participação das mulheres. A principal é a defesa da paridade entre os sexos como regra eleitoral e geração de condições de paridade como ação afirmativa capaz de favorecer a presença das mulheres nos espaços de poder. Cotas, fundo partidário, tempo nos programas de rádio e TV, paridade nas direções de partidos e movimentos, foram conquistas recentes, mas não foram capazes de ampliar o poder das mulheres nos parlamentos.
Questões para debater
- 1. Quais as causas das mulheres serem minoritárias nos espaços de poder?
- 2. O que fazer pra ampliar a participação política das mulheres?
- 3. Como avançar no próximo período na elaboração da plataforma sobre mudanças no sistema politico e/ou na forma de entender a política, para ampliar o poder das mulheres?